Direção: Everlane Morais. Roteiro: Everlane Moraes Montagem: Pablo Hernández. Direção de Fotografia: Everlane Moraes. Som: Elisa Victor.
Um cinema de natureza diretiva. É partindo desse preceito que Everlane Morais vai estruturando a obra tal qual um quebra - cabeça. Índice determinante na natureza da cinematografia. É nisso que ela imprime na sua assinatura uma consciência muito forte sobre o seu método e acerca das possibilidades que o ato cinematográfico conserva e condensa em si.
Primeiro investigando esses limites daquilo o que a câmera ordena (a reorganização das pessoas nos espaços captados) e daquilo o que ela testemunha (o rito da passagem, as reações da subjetividade humana e a pressão inexorável do tempo). A gente acaba aqui mesmo.
A morte enquanto fenômeno inadiável e inenarrável é o desafio e a potência da obra. Tudo no campo do seu conceito e forma se atomizam em torno disso. E esse é um dado que "contamina" o filme na sua totalidade. O fim se torna o começo e base de tudo. Dos discursos, das construções cênicas e temáticas.
O mais interessante é notarmos que Everlane não se utiliza disso como um meio apenas. O filme se vale disso enquanto fim para propor um trabalho que não considera pontos de fuga que nos lancem para fora desse subtexto. É como se a morte fosse a régua definitiva de onde tudo é definido no curta.
Ainda assim, não é como se a ideia de luto ou morbidez fosse um elemento centralizador do tom que a obra tem. O modo como a câmera de Everlane se aproxima dos personagens reserva uma cordialidade e respeito que nunca quebra os protocolos do rito fúnebre na sua totalidade. Tudo o que vemos na tela se dá muito diretamente. No curso de uma manhã ou tarde a estória se desenrola.
Quando a narrativa chega ao fim, o tempo como matéria ainda insiste em nos dar provas da sua força. E aqueles a quem acabamos de ver em cena não resistem ao peso do amanhã. É disso que a vida trata, afinal.
Assista ao filme completo abaixo