007 - Casino Royale (2006)
- danielsa510

- 13 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: Martin Campbell. Roteiro: Ian Fleming, Neal Purvis, Robert Wade, Paul Haggis. Montagem: Phil Meheux. Direção de Fotografia: Phil Meheux. Produção: Barbara Broccoli. Direção de Arte: Michael Lamont. Música: David Arnold.
Casino Royale (2006) representa bem essa retomada a um processo de apresentação de um Bond mais naturalista. Interessante como pouco mais de uma década depois de lançado GoldenEye, Martin Campbell retorna à série meio que para reler o trabalho feito em 1995. Claro que não falamos do ato de refazimento. Esse é um filme de origem, acima de tudo.
E o mais legal é notarmos a formatação dessas nuances e no modo como Bond vai se tornando aquilo o que entendemos hoje pelo arquétipo do agente secreto implacável e incorrigível. Mas certamente é o caráter da letalidade aqui esmiuçado que faz desse tipo o mais destrutivo já apresentado em toda a franquia.
A versão de Brosnan tinha esse ímpeto de explosão na sua forma de lidar com as situações às quais ele estava envolvido, mas nada que se compare ao traço assumido nesse ponto de em diante. Todo o prólogo e o primeiro ato juntos, demarcam bem essa curva que o filme assume em ser um projeto mais diretivo.
Bond mata na primeira missão e destrói toda uma embaixada infestada por um grupo de criminosos sozinho ainda no primeiro ato do filme. Ele é essa espécie de brucutu "one stand man" dos anos 1990, mas encarnado nesse homem do início dos anos 2000. Ainda assim a ideia é notarmos o quanto ele não está pronto. Mesmo que não esfera da composição imagética, material, algo não se encaixa de inicio.
Esse James não usa ternos caros, à princípio. Ele sustenta essa concepção da figura que usa a roupa de acordo com que ocasião. Apesar de parecer um detalhe, isso importa bastante porque é o modo como Campbell nos pontua as mudanças que o personagem vai sofrendo ao longo do percurso da estória.
Quando o terno enfim o encontra, ele finalmente se torna o espião clássico. Claro que isso é pontuado apenas de modo muito sutil. É um plano apenas. Diante do espelho, Craig se olha, observa o acabamento da vestimenta. Ele se torna James Bond, da fato. Tomando a cena isoladamente tudo parece um mero detalhe. Mas quando consideramos o elemento metafórico e conceitual desse instante, a tomada se reconfigura.
E falar dessa ideia de reconfiguração é importante porque o filme não se coloca apenas como mais uma sequência padrão na cronologia da série. Ele se percebe muito conscientemente como filme de ação e opera nas suas 2h25 minutos de duração dentro disso. Mas não se anula numa possível busca pela resolução isolada dos objetivos do herói.
É uma estória de origem que verdadeiramente está interessada na investigação dos detalhes dos traços de personalidade que constituem esse protagonista. Ele tem as missões, encontra os aliados e os inimigos em torno desses objetivos. Mas cada pequeno ponto dado em torno dessas dobras da narrativa configuram a tecitura do arquétipo desse Bond de um novo milênio.
Ele segue clássico quando elimina a todos que se colocam no seu caminho. E também se reconfigura ao permitir - se amar, estar apegado aos afetos contidos numa relação. Esse homem já não é só um tipo padrão de uma gênese ficcionalizada.
Ele sente assim como você ou eu. Talvez esse seja o elemento de maior potência dentro de um possível circuito de projeções que costumamos estabelecer com essas figuras do cinema de gênero. Ponto para Campbell e Barbarah Broccoli.



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