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O Último Episódio: descartabilidade no saudosismo cinematográfico

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 11 de out.
  • 3 min de leitura
Crédito: Filmes de Plástico
Crédito: Filmes de Plástico

Direção: Maurílio Martins. Roteiro: Maurílio Martins, Thiago Macedo Correia. Produção: Thiago Macedo Correia, Maurílio Martins, Gabriel Martins, André Novais Oliveira. Direção de Fotografia: Leonardo Feliciano. Música: John Ulhoa, Richard Neves. Som: Gustavo Fioravante, Tiago Bello. Montagem: Gabriel Martins, Marco Antônio Pereira, Yasmin Guimarães. Direção de Arte: Mariana Souto.


Desde que a Filmes de Plástico expandiu para Malute, dá pra se perceber uma mudança, também, na proposta dos filmes lançados pelos selos.


Se com O Dia que te Conheci (2023) o coletivo parecia acenar a um tipo de produção mais "acessível", mas ainda assim resguardando um traço de composição, sobretudo, conceitual do nível da narrativa. Com O Último Episódio (2025), parte dessa estrutura se adapta para um escopo mais simplista, principalmente considerando o elemento dramatúrgico da obra.


O que nos leva a pensar em certas brechas que deem conta dessas decisões. Acho que a mais curiosa delas é o fato de os realizadores estarem entrando numa certa maturidade do ciclo das suas vidas pessoais, o que naturalmente, viria a refletir no modo como essas estórias viriam a servir de combustível e referências para os filmes em linhas gerais.


No caso desse novo filme de Maurílio Martins, não vemos reflexo disso. É quase um processo de reversão. Porque ao invés do filme em si refletir esse ar mais apurado do próprio curso da vida vivenciado pelo artista, ele ressoa muito mais uma proposta de tons genéricos, saudosista e em alguma medida, até bobo mesmo.


Adoro o cinema dos caras. Alguns dos meus filmes preferidos do novíssimo cinema brasileiro vieram da experiência da Filmes de Plástico. "Fantasmas", "Dona Sônia..." e "Contagem", este dirigido pelo próprio Maurílio, são alguns desses títulos.


São trabalhos que colocavam uma série de questões em curso, seja no nível da linguagem ou da esfera formal em si, fossem no nível dos debates que eles conseguiam suscitar sobre nosso tempo.


Hoje, é como se todo aquele esforço anterior tivesse levado a isso, contraditoriamente. Legal vermos Gabriel, André, Sr. Noberto, Vovozona e o próprio Maurílio em cena. Só as presenças dessas figuras garantem um frescor que atesta uma realização que já não se importa em estar diante da câmera.


O meu problema com o filme é só a descartabilidade da sua premissa em si. São quase duas horas sobre a estória de um adolescente que queria dar um beijo numa outra garota.


Se a própria inserção dos demais personagens e as questões que atravessassem esse arranjo elaborassem situações que imprimissem uma carga de sentido extra a esse "arco principal", valeria tal organização, mas isso não acontece, já que tudo se resume ao pseudo filme que o adolescente tem de fazer e tal...são só excessos e todo o segmento do roubo da câmera ou da apresentação escolar são o atestado em negativo de tudo isso. É um desperdício de potência difícil de desconsiderar.


Se o "cinema independente" estiver se contentando em criar obras do modo como qualquer outro estúdio genérico tal qual uma Globo Filmes, hoje, faz, então talvez seja o momento de reordenar a rota das produções, conceitualmente e comercialmente falando.


Não estou nem falando do fato de o filme ser um "filme de amadurecimento". Não verdade, o trabalho ser irregular não passa por isso. Alguns dos melhores títulos da era contemporânea vem desse subgênero, vide Onde Vivem os Monstros (2009), O Pequeno Nicolau (2009) ou mesmo aqui no Brasil com Menino Maluquinho: O Filme (1995) ou O Ano em que meus Pais Saíram de Férias (2006).


A questão é que, considerando projetos como este, a questão mais determinante seja este condicionante comercial e talvez por isso o filme seja como ele o é. Precisa soar mais palatável, ainda que o preço a se pagar seja o do simplismo narratológico, em resumo.

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