007 Contra GoldenEye (1995)
- danielsa510

- 7 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: Martin Campbell. Roteiro: Ian Fleming, Michael France, Bruce Feirstein, Jeffrey Caine. Montagem: Terry Rawlings. Direção de Fotografia: Phil Meheux. Produção: Barbara Broccoli. Música: Éric Serra.
É de fato um filme bem destrambelhado. É como se o intervalo de cinco anos entre ele e Permissão Para Matar (1989) não tivesse sido utilizado como uma janela de aprimoramento de uma série de detalhes que se tornam decisivos para o tom da obra como um todo.
Quando falamos desse destemperamento, que inclusive percebemos em outros trabalhos dos anos 1990, não estamos lidando necessariamente com um desleixo proposital.
Apesar de particularmente não gostar tanto das abordagens de Woo nos seus projetos daquela década, por exemplo, entendo a consciência que um autor desses opera na feitura de cada um dos seus títulos.
Claro que os limites que o cinema de gênero tem de lidar são muito tênues. E talvez seja exatamente por essa delicada borda fronteiriça que muitos filmes desse lado da experiência figurem na linha historiográfica de modo tão fragilizado. É o caso deste Bond, à propósito.
Não quero com isso dizer que Martin Campbell seja um mal diretor. Definitivamente não. Já década depois de GoldenEye, ele retornou para dirigir Casino Royale, que é um dos melhores filmes de toda a franquia. O problema aqui é o desmensuramento e o forte índice de despropósito e desleixo com tudo o que a narrativa engloba.
É como se nada fosse feito ou pensado para que crêssemos, mesmo que infimamente, que algo naquele universo é crivel, naturalista e "não-fílmico". Sim, estamos diante de um filme ficcional estabelecidos com personagens ficcionalizados. Mas isso não implica dizer que tudo a volta deles deva ser colocado de uma forma tão descompensada e cínica na sua concepção.
Ainda assim, no nosso trato enquanto espectadores na aventura com o gênero no cinema, vale a reflexão sobre o que queremos desses filmes afinal? Queremos crer que tudo o que vemos na tela é passível de estar inserido numa realidade? Talvez. O problema certamente aqui recaia nesse cinismo bobo dos blockbuster contemporâneos, que sempre existiu.
Na última década do milênio, ele só se reconfigurou em um ensaio daquilo o que vemos até hoje, duas décadas depois de iniciado um novo período milenar, caso cheguemos a 2121. E caso cheguemos, muito provavelmente será por essa lente que ainda olharemos para um trabalho como GoldenEye. E seu anacronismo arraigado tem grande influência nisso.
A isso, somemos aos clichés de representação, o recurso da contagem regressiva, a donzela em perigo, a subvila hipersexualizada e quase sempre a beira de ter um ataque de hysteria, esse ponto mesmo colocado subliminarmente como um desvio de desqualificação da figura dessa mulher; além dos alívios cômicos excessivos e desnecessários e os vilões despropositados.
Tudo isso compete para a implosão do filme de modo espontâneo, quase. Mas tudo isso configura na culpa de Campbell? Não. Repito: ele é um bom diretor. E há um segmento no filme que apesar de destoante, marca fortemente o ponto de o autor ser realizador que entendia alguns dos códigos os quais lidava ali. Falamos da sequência da perseguição do tanque de guerra.
Um pouco de pois da primeira hora de filme, Bond inicia uma corrida desenfreada a fim de resgatar Natalia, Bond Girl da obra, das mãos de um vilão generalesco. É o melhor momento de todo o longa. Porque ele demarca quase que uma tomada a parte de tudo aquilo o que vimos na hora anterior. É segmento bem longo, mas que reúne alguns dos melhores pontos de engate quando tratamos do cinema de ação.
Há uma energia aqui que move a estória para a frente de uma maneira que não passamos a questionar analiticamente o que estaria de descompasso com o que entendemos ser da gramática do gênero e daquilo o que excede esses códigos. Tudo conflui. É uma cena de iminente ação.
Não há diálogos, portanto, nada de alívios cômicos. A atuação fica restrita à ação executada via dinâmica de perseguição mesmo. Brosnan não tem uma linha sequer, e a exemplo do que se Leone instituira com Eastwood em 1964, ele só atua no nível da execução de movimentos corporais.
E o que o bom cinema nos ensina é que nada mais podemos exigir de um ator mediano. E talvez seja isso que nós queiramos desses filmes, simplesmente. Às vezes nos surpreendemos. Foi assim com Goldfinger (1964), O Espião que me Amava (1977) e Skyfall (2013). Essa é a potência modular da série. E tudo bem.



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