007 Contra Spectre (2015)
- danielsa510

- 30 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: Sam Mendes. Roteiro: Ian Fleming, Neal Purvis, Robert Wade, John Logan e Jez Butterworth. Montagem: Lee Smith. Direção de Fotografia: Hoyte van Hoytema. Produção: Barbara Broccoli. Direção de Arte: Roxana Alexandru, Chris Lowe. Música:Thomas Newman.
Essa etapa da Era Craig expressa bem a concepção de um filme que é mais inchado do que o antecessor. A ponto de, não apenas termos a impressão, mas a certeza de que ele soa como uma obra que excede a si mesma. Seja pelo tempo, na concretude que a duração estabelece, ou pela gamas de pontos referenciais dos quais ele é montado.
Isso não significa dizer que Spectre (2015) seja um mau filme. Não é. Mas ele acaba pecando pelas suas próprias convenções adotadas ao longo dos seus 152 minutos. Nessas duas horas e meia de tempo, a gente entende que há um esforço de Mendes em dar uma espécie de fechamento das amarras que ligaram todos os demais filmes desde 2006, mas uma questão fica.
Seria essa mesma a questão norteadora ao final? Parece que não. Diante do desafio que o cinema de ação, a despeito das especificidades que a série Bond expõe, há um código a ser estabelecido com a experiência do gênero em si. Mas o que pede ou o que quer o cinema de ação/espionagem na contemporaneidade?
Somente contar uma estória redonda? Apontar, mesmo que discretas, mas concretas, distintas proposições narratológicas no contexto dessas produções? Um pouco dos dois eu diria ser justo. Voltemos para A Identidade Bourne (2002).
Gosto muito como o primeiro filme da trilogia de Damon opera para restabelecer uma conexão com toda uma tradição de filmes de espião setentista, mas tendo consciência também de apontar um direcionamento numa ação de cunho da representação da luta para além do espetáculo gráfico.
Ali, temos a economicidade no texto, no tempo e no uso comedido desse detonador que é o confronto entre os personagens do longa. E essa não parece ser uma decisão notada quando retornarmos para o quarto filme protagonizado por Craig e o segundo dirigido por Mendes. Parece haver sempre muita coisa que ele tenta abraçar sem ter fôlego o suficiente para isso.
Prova maior disso são os clichés. Juntos, eles não chegam a dissipar a força que o filme tem, mas diminuem bastante o seu efeito na soma das suas partes como um todo. A ideia do par romântico, da dama resistente, da donzela que fica em perigo e da contagem regressiva que antecede o epílogo da obra são alguns dos detonantes que destituem o longa em distintos momentos.
Mas quando consideramos a equivalência do sopro referencial muito a exemplo do que vimos em Skyfall (2012), entendemos não estar diante de um trabalho preguiçoso. Como a reflexão é sobre excessos, não é naquilo o que falta que marca essa experiência e sim o que sobra. Mas o que eleva o filme nessa outra aba possível?
Penso que sua vertente conceitual mesmo. Nesse impulso meio romântico de pontuar tópicos de diferentes décadas para dar a ver essa versão que final de um Bond perto dos últimos dias. Mas diferentemente de um Novo Dia para Morrer (2002), há um espírito de celebração aqui que exorta a série com com o mínimo de sofisticação.
Quando vemos Bond na sequência de abertura no Dia dos Mortos mexicano, a intenção é também a de citar Viva e Deixe Morrer (1973). Quando vemos o agente numa fuga desenfreada contra Mr. Hinx em Roma, o objetivo é costurar Para Rússia com Amor (1963) à Goldfinger (1964). E tudo bem. Porque esses são movimentos alusivos que nos lembram sempre de onde esses personagens vieram.
Eles não descendem de uma massa amorfa. São parte de um todo e se reprojetam de diferentes maneiras (ou de modo similar mesmo) ao passo de a da novo filme. E de Connery a Craig, esse constante ir e vir foi e tem sido uma das marcas da franquia. Nunca entendi como se os Brocolli intentassem revolucionar o cinema de ação com seus projetos.
Os filmes sempre acompanharam esse movimento continuo da ação enquanto gênero seguindo algumas tendências e apontando janelas na própria construção interna daquilo o que a série o é. Mas se hoje o projeto chega ao seu 25 título é pela modulação desse fluxo.



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