007 - Permissão para Matar (1989)
- danielsa510

- 2 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: John Glen. Roteiro: Ian Fleming, Richard Maibaum, Michael G. Wilson. Montagem: John Grover. Direção de Fotografia: Alec Mills. Produção: Albert R. Broccoli. Música: Michael Kamen.
É um filme interesse porque indiretamente está sempre apontando uma dialética com aquilo o que já vimos no passado e daquilo o que veríamos no futuro. Essa modulação entre - tempos, ainda que ocorra de modo meio não intencional, funciona muito bem e coloca nosso olhar em diferentes perspectivas a partir do que uma figura tão multicamadas como Bond tende a ser.
Ele retoma muito a concepção da primeira quadra de filmes da era Connery e desse Bond que vai ao encontro do seu inimigo. Mas também se desenha naquilo o que veríamos décadas a frente com Cassino Royale e os jogos de azar com os seus antagonistas.
De 1962 a 2005, o filme vai dosando um pouco de cada coisa que faz a linha temporal do personagem e isso é algo legal de notar. Não é como se o seu foco estivesse todo voltado para uma rasteira teia de referências vazias a uma contemporaneidade apressada e desprorporcional, unicamente.
Claro que há muito de uma construção dos reflexos do espírito daquele tempo, ou seja, daquele final de anos 1980. Isso fica bem evidente na escolha do tema de abertura, no uso da telas e dessa tecnologia computadorizada que emergia naquele período e da própria veia reflexiva e espelhada do cinema como gênero em si.
Aquele conjunto de personagens e de situações que vemos no último ato representam diretamente esse movimento de ida e vinda nas referências que a própria obra toma da série a qual deriva. Há muito do conceito do confronto final no laboratório do antagonista (Dr. No), bem como uma inferência direta a Conan, O Bárbaro (1982) e esse lugar religioso, libidinoso e corruptível.
A ação, portanto, é uma das linhas principais que conduzem o filme como um todo. O drama e o conflito que movem o protagonista são legítimos e orgânicos, mas tudo deriva dessa ação em sua natureza mais direta e prática, ainda que tenha momentos isolados de destoamento fantástico.
A sequência do caminhão guiado sob apenas algumas poucas rodas é um belo exemplo disso. A comicidade ainda não havia sido abandonada por completo, mas seus resquícios diretos do filme anterior ainda ressoam aqui, mesmo que de modo bem isolado, seja no prólogo ou no desenlace.
Um ultimo ponto que vale a reflexão é o fato de Bond não ser tão sexualizado aqui. Ele não gasta tanto tempo ganhando mulheres, ainda que a dinâmica com as Bond Girls exista. Mas ele não opera isso sequer em segundo plano.
Há uma tensão construída paulatinamente entre o espião e a agente infiltrada (novamente avançamos no tempo e notamos a referência utilizada por Quantum of Solace em 2008), mas ela só ressoa enquanto alívio dramático mesmo, quase um "serviço" de reforço ao traço arquetípico do homem galanteador.
O que é interessante porque já dialogava com a ideia de um personagem que estava se abrindo para outros tipos de construções sociais, como a do não mais "cafajeste irrepreensível", por exemplo. E dai retornamos ao Bond de George Labenzy (007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, 1962), ou seja, ao um tipo bem mais maduro nesse sentido.
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