007 - Operação Skyfall (2012)
- danielsa510

- 27 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: Sam Mendes. Roteiro: Ian Fleming, Neal Purvis, Robert Wade, John Logan. Montagem: Stuart Baird. Direção de Fotografia: Rogers Deakins. Produção: Barbara Broccoli. Direção de Arte: Paul Inglis, Chris Lowe. Música: Thomas Newman.
Há uma equivalência saudável que liga, de alguma forma, a experiência de Casino Royale com essa parte da série cinematográfica. Porque quando partimos desse paralelo, podemos entender que os filmes se equivalem no sentido de estarem comprometidos com uma parte considerável do desenvolvimento do personagem enquanto figura matriz das estórias.
Só que, enquanto no longa de Campbell, essa matriz estava muito mais ligada à uma concepção mais crua, direta e menos romantizada, aqui, Sam Mendes parece mais interessado nessa investigação referencial mais relacionada a uma estética de um passado menos dado a essa normativa diretiva e sim a uma visão imbricadamente classista.
Claro que isso não é um problema. Na verdade, essa é sem dúvidas umas das tomadas de decisões que definem esse como um dos melhores capítulos de toda a franquia. Porque diferentemente das obras que a antecederam, esse índice mais ligado à ordem do sentido, como os conflitos mais aprofundados de figuras que vai pra além de Bond, no caso "M" (Judd Dench), reflete isso.
Ou seja, esse desejo de explorar aspectos da natureza desse herói que estão para além da ideia de missão a cumprir em si, ou do vilão a ser batido estritamente. Reside um gesto que consiste bastante na tecitura dessa malha que liga os personagens, principalmente considerando o triângulo formado por Bond, M e Silva. Disso, são múltiplas as leituras possíveis.
Eles são equivalentes, quando vistos como essa espécie de produto do meio. Mas também podem ser antagônicos pelas razões obvias: estão em lados opostos onde o heroísmo e a vilania não solidarizam. Ainda assim, Mendes não se limita a ditar a decisão de modo tão linear quanto imaginamos. De certo modo, a relação que a tríade estabelece tem um formato circular mesmo.
E é nesse ponto que a morte entra na jogada. Além da ideia de um "topos", desse lugar geográfico que retoma as origens do protagonista ou mesmo em relação a esse espaço do confronto final, Skyfall presume esse índice derradeiro na caminhada desses nomes. O clímax, de certo modo acaba nem existindo. Isso é algo interessante porque essa não nos parece ter sido a real intenção de Mendes.
Falamos de uma questão formal e técnica, mas que elucida bem o quanto o filme exala mais essa atmosfera em torno de uma mecânica que só existe e faz sentido pelo conjunto das suas outras partes do que de um momento último em si. Apesar de entendermos que ao antagonista não cabe outro fim, isso não se condensa num terceiro ato ou epílogo unicamente e pronto.
A exemplo de outros títulos icônicos da série, como Goldfinger (1964), por exemplo, o jogo aqui se dá pela equação da soma de todas as partes que fazem o filme, do seu prólogo ao epílogo, enfim. Bond morre, ressuscita; M morre, volta à vida, assim como a Silva ocorrera até o momento em que ele decide retornar à Londres para sua multiarquitetada vingança. Equivalências. Sobre isso que o filme também é.
Entendo que, quando vamos refletir sobre essa ideia da sua conclusão, a obra tenha esse traço meio anticlimático mesmo. Depois que Skyfall se vai, intuimos que o fim está próximo mesmo e que não importa tanto o impacto desse fechamento. Não vale mais a elucidação de uma grande reviravolta no final de tudo. Isso vai ocorrendo gradualmente à medida que os capítulos se sucedem.
Por isso estarmos atentos a essas passagens é importante porque elas é que fazem o todo do filme. São as pequenas parte de cada segmento que, juntas, sedimentam esse projeto que tem um ar menos diretivo que Casino Royale e mais elaborado que Quantum of Solace. É a medida exata da representação da estória do espião. E por todos os seus demais acertos ela certamente para sempre será lembrada e referenciada.



Comentários