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A Filha Perdida: os pedaços na construção da narrativa fílmica

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 10 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

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Direção: Maggie Gyllenhaal. Roteiro: Maggie Gyllenhaal, Elena Ferrante. Montagem: Affonso Gonçalves. Direção de Fotografia: Hélène Louvart. Produção: Maggie Gyllenhaal. Música: Dickon Hinchliffe


Não há tentativa de resolução conflitual que dê conta dos problemas apontados por muitos dos filmes que o cinema contemporâneo nos coloca nesse tempo. Por entender isso muito bem é que Maggie Gyllenhaal projeta seu longa a partir dessa ideia de uma peça em falta.


Esse ponto de completude inalcançável é o que rege a estória nas suas mais diversas frentes. Começando pelas questões de Leda (Olivia Colman), isso surge inicialmente como que por contradição. A todo momento de solitude que a personagem tenta ter consigo, algo a atravessa de alguma forma.


Às vezes é uma pessoa, outras vezes um coletivo, em outros instantes suas próprias memórias do passado. Por mais que ela anseie por esse encontro consigo, o instante quase que invariavelmente a lança para um vértice onde o choque com o outro há de ocorrer. Leda dificilmente encontra o silêncio.


Isso só ocorre quando ela faz o mergulho interno na autoreflexão sobre o seu passado (de contradição?!) Gosto particularmente como Gyllenhaal joga com esses possíveis. Nessa brecha que o espectador tem de ver algo que a personagem em si não acessa, só sente.


E nessa amálgama de retornos no seu subconsciente, Leda vai e volta no tempo não para retornar ou contornar as decisões que ela mesma tomara no passado. Esse é talvez o ponto de maior envergadura temática do filme, uma vez que ele aponta para um lugar que desloca a figura da mulher que sempre parece estar a pagar alguma dívida de uma vida passada.


O olhar da protagonista está sempre à frente, ainda que os fantasmas das suas experiências já vividas permaneçam firmemente no seu subconsciente. Nisso, positivamente não conseguimos traçar uma linha entre qualquer que seja o perfil dessa mulher. Ela é má? é boa? Feliz ou amargurada? Essa é uma noção que não cabe à autora (do filme) ressaltar.


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Filme marcou a estreia de Maggie Gyllenhaal (foto) na direção e foi filmado durante a pandemia da Covid-19

Ao mesmo tempo, é preciso sim reconhecer que há instantes na obra em que esse peso se torna bem insustentável. E por algum momento, essa verve estereotipada salta de situações determinadas. A sequência do cinema fala disso, como nos conta bem Michel Gutwilen no seu comentário sobre o filme.


Ademais, entendo valer o conjunto da experiência que o filme propõe. Dessa dinâmica de exposição que não se furta à ser o tema de uma narrativa em si, mas se apropriar dele para propor esquemas do campo formal em si, seja na construção de uma ambiência sonora incessante e visceralmente sensorial ou na estética de imagens que buscam essa naturalidade alternada no grão contido na tela.

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