A Flor do Buriti: da crença e o respeito à vida ancestral
- danielsa510

- 4 de jul. de 2024
- 2 min de leitura

Direção: João Salaviza, Renée Nader Messora. Roteiro: João Salaviza, Renée Nader Messora, Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Henrique Ihjãc Krahô. Montagem: Edgar Feldman. Direção de Fotografia: Renée Nader Messora. Produção: Ricardo Alves Jr., Julia Alves. Som: Diogo Goltara.
É muito boa a forma como o filme assume essa ambientação pautada em um realismo fantástico e de como a narrativa vai se modulando com base nesse tom híbrido entre aquilo o que é uma vertente mais documental, e por isso, baseada em um certo "realismo" da vida e memória desses personagens, e o que é reencenação, tomando como referência os diálogos e as situações por eles protagonizados.
Sentimos que isso não se estabelece de um modo pré-determinado ou irredutível principalmente pelo fato de a trama não seguir uma orientação definida em termos de como os eventos se sucedem.
O desafio que os Krahô enfrentam não estão circunscritos em uma ameaça imaginária. Porque, para além do embate e das tensões com os grileiros e pecuaristas brasileiros, estes outros brasileiros, donos das suas terras por direito, ainda tem de, no contexto em que o filme se apresenta, fazer frente ao governo vigente à época da gravação do filme.
Talvez por isso que, o sangue derramado na reconstituição do massacre do povo indígena na década de 1940 se torne, na verdade, quase que uma reorganização desse trauma pertencente não apenas a um passado, mas que se reelabora e continua a espreitar os povos originários desde os primeiros anos do século XV ou desde que os primeiros assassinos exploradores do Brasil aqui chegaram.
É nesse sentido, também, que a obra de Salaviza e Messora faz a frente ao próprio curso da história. O fato de a escrita dessa trama ter passado pelo olhar dos próprios Krahô, nas figuras de Henrique, Ilda e Francisco, reflete no curso que a dramaturgia assume para si como resposta à violência impetrada pelo Estado brasileiro a esses povos em todo o território nacional.
Não é sobre passividade ou resignação. Mas sim a respeito da política como forma legítima de uma representação elevada frente à barbárie colonizadora contemporânea. E no meio disso tudo, uma crença inabalável no poder restaurador da fé naquilo o que a terra pode dar em troca desses fluxos de subsistência justa, ancestral.
Além do amor e do respeito na vida como ferramentas para a construção de um amanhã outro, não marcado pela brutalidade dos dias em luta, mas perseverante no poder do futuro, daqueles que nasceram ontem, aos que nascem hoje e dos que virão amanhã.



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