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A Liberdade é Azul: a potencia de representação do estado de luto

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 24 de jul. de 2021
  • 2 min de leitura

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Direção: Krzysztof Kieślowski. Roteiro: Krzysztof Kieślowski . Montagem: Jacques Witta. Direção de Fotografia: Slawomir Idziak. Produção: Marin Karmitz. Som: Pascal Colomb. Música: Zbigniew Preisner.


O risco da fetichização do nosso olhar diante de certas obras é sempre uma variante que devemos considerar. Aqui não é diferente. São muitas as visões que apontam Krzysztof Kieślowski como uma força máxima da cinematografia do final do século XX, sobretudo no período dos anos 1980 e 1990.


No exercício do recuo no olhar, vale a análise que opera muito mais por uma veia do dissenso que a do consenso. Ainda assim, há determinados trabalhos que realmente impõem uma dinâmica difícil de desconsiderar, principalmente quando estamos levando em conta o gesto da realização audiovisual como uma instância que supera a estratégia da representação.


Não que o tema não deva, em determinados casos, ser desconsiderado. Ele não o é aqui. Ele importa muito, na verdade. Tudo reverbera dele. E essa reflexão sobre os possíveis da morte ecoam ao longo de todo o filme. É seu início e fim. E dela, tudo se transforma. O que chama atenção, por fim, é sua interpretação enquanto instância de vida e não necessariamente dor e sofrimento somente.


Logo, ao invés de se apegar aos aspectos psicologizantes unicamente que poderiam recair nessa construção dramaturgica, Kieslowski opta modular o elemento da estética com a vertente conceitual ou temática, por exemplo. É curioso como ele utiliza o som como uma ferramenta catalisadora dessa perpectiva, por exemplo.


Muitas vezes, essa veia sonora que irrompe na tela quase se materializa a partir da sua natureza de intervenção. Seja por meio de um ruído que corta a cena (uma vidraça quebrada no meio da noite) ou a partir dessa música extradiegética que conscientemente atravessa a dramaturgia e se impõe como que por uma marca do exagero dramático de um filme que contraditoriamente parece o tempo todo lutar contra essa abordagem ultra dramática ou psicologizante.


Sua beleza, vai ver, não resida nem tanto no apelo que a abertura temática pode propor. Entendemos que a dor do luto que Julie (Juliete Binoche) leva consigo é imensa, mas isso não a imobiliza. Ela não se anula em função disso.


E apesar de todo o pesar (o jogo de palavras não soa gratuito) ela segue à frente, vive o peso de um tempo como esse, o expurga do seu íntimo com toda sua força. Ela é uma personagem imensa, esférica e inesquecível. Legado maior de uma cinematografia máxima e basilar e esse é uma saudável forma de consenso.


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