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A Substância: o sujeito, o concreto e o ouro

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 23 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Crédito: MUBI e Imagem Filmes

Direção: Coralie Fargeat. Roteiro: Coralie FargeatDireção de Fotografia: Benjamin Kracun. Som: Valérie Deloof. Design de Produção: Stanislas Reydellet. Música: Raffertie. Montagem: Jérôme Eltabet, Coralie Fargeat, Valentin Féron. Produção: Eric Fellner, Tim Bevan Direção de Arte: Krystell Morantin. Efeitos Especiais: Olaf Taittinger.


Até gosto da premissa da protagonista ser, em certa medida, essa figura auto suficiente e independente de uma concepção normativa da vida na sociedade contemporânea. O filme não é sobre isso, mas pontua esse estado muito bem, até, antes de situar a narrativa em seu ponto central.


A ideia da obsessão pelo senso padronizador se manifesta muito mais pela condição em que Elizabeth Sparkle se encontra dentro da indústria onde ela um dia foi uma referência. Prestes a ser substituída, ela opta por se submeter ao tratamento de uma companhia do mercado alternativo na intenção de criar uma outra versão de si mesmo.


Partindo dessa lógica, notamos que Coralie Fargeat mira na ambiência dos espetáculos nos meios de comunicação, sobretudo da televisão, para tecer uma crítica aos costumes desse ecossistema.


De Jean Renoir a Alan Cooke, passando por Billy Wilder a David Lynch, muitos foram os autores que se debruçaram criticamente sobre como os costumes podem deteriorar as relações entre as pessoas, independente do período histórico ou do meio onde elas estão inseridos.


Problema aqui é que esse comentário crítico parece muito mais vinculado apenas àquilo o que a protagonista terá de passar do que a partir de uma construção de ambiência mesmo, tal qual filmes como Estrada Perdida (1997) ou Cidade dos Sonhos (2001) fizeram tão bem.


O desejo aqui reside muito mais pela tecitura dos arranjos desses eventos cujas consequências parecem apenas detonar diretamente na heroína (?) da narrativa. Chegando a ela, é muito interessante pensarmos um pouco sobre a estória da crueldade na historiografia do cinema.


Afinal, em torno de que e a quem a cinematografia ao longo dos últimos 120 anos tem se debruçado na sua veia crítica? Em 2024, um comentário como a que Fargeat propõe cruza algumas linhas numa espécie de interseção politemática e pluri-interpretativa que estimulam o debate, sem dúvida.


De todo modo, ao curso do terceiro ato, a impressão final que se fica é a da culpabilização irresoluta do estar feminino perseguido pela personagem a partir de um equação catastrofizante a que tudo parece conduzir a esse senso de autodestruição premeditado.


Não há traumas no curso da narrativa, é verdade, e essa frontalidade com que a estrutura narratológica se arquiteta talvez seja uma das maiores forças do filme.


Uma potência que, infelizmente, se reduz à dimensão atomizante de uma direção que apenas parece querer ver sua criação morta, ao ponto de que nada naquela figura reste, senão, um enquadramento feito de ouro e concreto acimentado em uma calçada.


A crítica se esfacela em meio ao fetiche da imagem chocante. Um estado que sai da diegese fílmica e se assume no sopro da realização mesmo.

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