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Amores Materialistas: jogos de sorte e azar nos relacionamentos

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 11 de ago.
  • 3 min de leitura
Crédito: A24
Crédito: A24

Direção: Celine Song. Roteiro: Celine Song. Direção de Fotografia: Shabier Kirchner. Design de Produção: Anthony GasparroMúsica: Daniel Pemberton. Produção: Pamela Koffler, Christine Vachon, David Hinojosa, Celine Song, Ben Kahn. Montagem: Keith Fraase. Direção de Arte: Molly Mikula, Claire Deliso, Kat Uhlmansiek. Som: Dimitri Kouri. Maquiagem: Kathleen Brown. Cabelo: Jessica Butanowicz


Gosto da decisão da Celine Song de criar uma espécie de curva dentro do seu próprio processo de realização. Porque se pensarmos em Vidas Passadas (2023) como esse filme eminentemente melodramático em sua veia mais cult de ser, aqui, ela adota um tom menos rigoroso tanto na questão da forma quanto do sentido que a obra como um todo tem.


Óbvio que essa decisão não necessariamente tem a ver com uma ideia de falta de prumo no arranjo dramático ou em uma abordagem superficializada na construção dos personagens ou do modo como os eventos acontecem.


Por isso que os comentários em cima de uma suposta apatia por parte da atuação da Dakota Johnson não façam sentido. Uma vez que essa veia meio blasé que a personagem (e não a atriz), adota, dialoga muito bem com o arco de transformação pelo qual essa figura passa.


Há um senso de indiferença e fascínio dela pela profissão e isso se materializa tanto pelo cuidado com que ela tem com essa fazer quanto pela leitura crítica que ela mesma faz em torno do ofício e suas consequências na sua vida privada e nas das pessoas a quem ela atende.


No âmbito da forma, é muito marcante o uso que Song faz de elementos complementares na construção da imagética do quadro. Entre duas pessoas que estabelecem algum tipo de diálogo há sempre um plano de fundo que não é meramente decorativo.


Parte integrante e orgânico da dinâmica na cena, ele sempre ajuda a dotar a ação em curso de sentido. Seja em um bar, um pub, em uma cafeteria ou numa festa em um apartamento, há sempre um conjunto de pessoas executando ações em segundo plano para o reforço do sentido dessa construção em primeiro plano.


Muitas vezes, elas se entrecruzam em um trabalho instigante onde os personagens, no trânsito natural cênico, passam de uma marcação para outra dentro da mesma sequência.


O momento em que o triângulo é introduzido fala bastante disso. É uma interação que parece não ter pressa para acontecer, como a grande maioria dos momentos do filme.


Talvez esse seja um indício do quanto o cinema contemporâneo mainstream sofra para lidar com a construção de cenas, mesmo em seu caráter isolado.


Sei que a Song não é Nikki Cimino, mas não tem como olhar para a dinâmica do segmento da festa de casamento e não ter uma excelente lembrança da época em que o cinema conseguia transforma uma cena de celebração em uma coisa épica mesmo, tanto pelo peso da estrutura organizada (múltiplos atores dentro de uma complexa gama de interações simultâneas).


O que quero pontuar é que, só de o filme de Celine se importar em colocar seus personagens para interagir como pessoas de verdade, já vale a experiência da apreciação fílmica. Muitas vezes estarmos diante do filme é sobre isso.


Eu entendo que ele se utiliza muito mais de referências de obras do início dos anos 2000, como o Diabo Veste Prada (2006), Hitch - O Conselheiro Amoroso (2005) ou 500 Dias com Ela (2008).


Dentro dos limites daquilo o que a A24 tem feito nos últimos anos, sobretudo na experiência com o terror, de Longlegs (2024) a Opus (2025) ou Traga Ela de Volta (2025), o filme de Song se distingue por buscar, minimamente, se operacionalizar enquanto cinema mesmo. E a proposta desses esquemas cênicos citados anteriormente exemplificam bem isso.


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