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Antes que Tudo Desapareça: interpretações para além do que evoca a convencionalidade

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 17 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

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Direção: Kiyoshi Kurosawa. Roteiro: Kiyoshi Kurosawa, Sachiko Tanaka. Montagem: Kôichi Takahashi. Direção de Fotografia: Akiko Ashizawa. Produção: Yoshinori Chiba. Música: Yusuke Hayashi


É a proposição de um outro cinema que move as intenções de Kiyoshi Kurosawa desde sempre. Interessante como os seus trabalhos incitam e exijam, do nosso olhar, uma capacidade de interpretação para além dos índices que a convencionalidade dos códigos da cinematografia evocam.


Nisso, ele parte aqui desse imaginário da ficção-científica para costurar essa proposta com uma série de outros gêneros. Isso até já foi bastante pontuado por outros colegas, mas vale atenção para a dimensão daquilo o que o espectador pode ou não compreender nesta mescla temática.


Muitas leituras acabam se equivocando exatamente por essa incompreensão. Primeiro, acerca da incapacidade de olhar para além daquilo o que a representação convencional do filme de alienígena pode sugerir. Ou seja, enxergar e ler as entrelinhas do fazer cinematográfico na superação dos seus clichés.


Quando Kurosawa assume a estória de extraterrestres decididos a acabar com a humanidade, isso não ocorre por um senso de vingança ou "maldade" despropositados. Há muito entendimento, na verdade, de que esse objetivo é tão somente um meio para descrição do que realmente importa ao diretor.


Discutir a modulação entre a fragilidade e força humanas ante aquilo o que pode dar sentido ou não à nossa existência. Qual o valor das relações que mantemos com a nossa família, nosso trabalho, nossa sociedade e nossa espécie de modo geral?


Partindo disso é que podemos entender as variações discursivas sob as quais o filme se desenha. Isso nada tem a ver com nos projetarmos no desejo de sobrevivência dos humanos. O que está em primeiro plano aqui é a crítica social escrita nas entrelinhas de uma estrutura que independe do seu senso naturalista ou alegórico.


O diretor Kiyoshi Kurosawa (foto) é um dos mestres na mescla de gêneros entre filmes de distintos gêneros

O filme esta ali no meio-caminho entre essas duas vias. Movimentando - se nesse ir e vir temático ele não deixa de pontuar sobre as dimensões fantásticas do imaginário do gênero, nem a respeito das questões que problematizam a contemporaneidade, como o sentido das nossas posições na vida particular e coletiva do hoje.


Quando o filme entende que deve ser direto sem soar simplista ele praticamente improvisa. A captura das consciências dos humanos pelos aliens ocorre com um gesto. É a ponta dos dedos sem efeitos visuais ou nada disso que define a ação. E mesmo quando ele se permite encenar um segmento mais espetacular, ele não ocorre sem que o tom crítico de subtexto.


As sequências da lutas trazem essa sugestão de uma ação direta e ancorada basicamente no acordo entre tudo o que é trabalho de corpo dos atores e a estabilidade de uma câmera consciente do espaço que ela deve ocupar no registro desse instante. Quando tudo tem de ir pelo ares, as explosões reverberam essa potência imagético - sonora bem marcada pela experiência de Hollywood.


A questão é que, para uma parcela espectadora acostumada a uma produção pasteurizada, preguiçosa e que usualmente subestima o olhar daquele que olha para os filmes por ela produzidos, estar diante de um Kurosawa pode ser um grande desafio. O resultado disso é a incompreensão. Aquela mesma marcada e presente na reflexão esquiva de colegas como David Ehrlich, por exemplo.

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