Avatar: O Caminho da Água - a solidez de uma estória invariável
- danielsa510

- 19 de dez. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 9 de jan. de 2023

Afora toda a atenção focal que as questões da técnica ligadas aos recursos dos efeitos visuais evocam, o filme está sim dentro de um positivo espectro das obras blockbusters com uma narrativa invariavelmente sólida para contar.
Quando consideramos tanto os projetos da Marvel Studios quanto dos outros grandes estúdios da indústria norteamericana, a comparação com o mais recente longa-metragem do Cameron se situam em pólos distintos.
Não estamos falando de diferenças abissais entre tais obras, mas tão somente lidando com a comprovação de como as variações tonais presentes ou ausentes nesses trabalhos nos ajudam a entender um pouco melhor como redefinirmos certos conceitos neles estabelecidos.
Um dos mais latentes certamente é o de como James entende o caráter de viabilidade do foco dramatúrgico da sua estória. Diferente de Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022), por exemplo, aqui, os elementos emocionais da trama não se operacionalizam a partir de um vezo apelativo ou ancorado unicamente a partir do componente dramático de determinadas situações.

No caso, o luto e a noção da diáspora relacionadas à perda de certos personagens e de uma territorialidade, são bem representativos dessa distinção entre os filmes. Enquanto que no "filme de Coogler" esse entendimento opera apenas como uma espécie de massa disforme superficial por não evocar consequências concretas que movem as situações a frente, em "O Caminho da Água" essa ideia sempre parece levar os personagens uma cada adiante.
A dor dos eventos os conduzem a uma nova esfera situacional. E mais uma vez: as consequências são sempre redimensionadas a partir disso. Quando Neytiri tem de lidar com o que ocorre no começo do último ato, não há tanto tempo para o processamento do que ocorre.
No calor do que acontece naquele instante, a personagem tem de ser ressignificar, ou melhor, se reestabelecer a partir daquilo o que ela é: uma guerreira irrefreável movida por um desejo incomensurável por vingança. Interessante notarmos que Cameron não lança mão dessas variações para gerar o que poderíamos entender como "instantes heroicamente apológicos".
Não há uma intenção de hiperdimensionar o que acontece. O fluxo do desenvolvimento dos eventos segue invariável. Antes, ele brinca bastante com o gesto autorreferencial, o que é bem legal de percebermos. Afinal, há bastante ecos de trabalhos prévios como "Aliens - O Resgate" (1982), "O Julgamento Final" (1991) e Titanic (1997).
No sentido do filme ir sendo tecido em instantes de ação onde os eventos vão se estendendo feito uma linha que só perde a elasticidade quando uma nova situação - problema subsequente tem início. Há, portanto, uma lucidez na percepção do que pode ser o blockbuster contemporâneo, nesse sentido. Da mesma noção que conduz as assinaturas de realizadores como Christopher Nolan e Matt Reeves.
Claro, não estamos falando de catarses obtidas na experiência do contato com esses filmes, mas tão somente a sensação de compensamento no trato com essa linha cinematográfica. E assim como seu predecessor, esse novo Avatar nos levaria a discussões infindáveis sobre como a tecnologia e a técnica da realização fílmica podem apontar sentidos para essa fazer artístico e/ou comercial.
São partes outras possíveis da reflexão. E é para isso que os filmes servem, também, a exemplo dos que foram os também ótimos "The Batman" e "Top Gun: Maverick", ambos de 2022 e com as características de entenderem esse lugar "do meio" da vertente do cinema comercial dos nossos tempos.



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