Blade Runner 2049: quando a ambiência supera a lógica saudosista
- danielsa510

- 21 de out. de 2021
- 2 min de leitura

Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Michael Green, Hampton Fancher. Montagem: Joe Walker. Direção de Fotografia: Roger Deakins. Produção: Ridley Scott. Direção de Arte: Peter Popken. Música: Hans Zimmer, Benjamin Wallfisch. Efeitos Visuais: Rohit Agarwal.
Gosto da condução de Denis Villeneuve e do modo como ele agencia esse sopro do filme de continuidade sem que sua obra resvale apenas numa brisa medíocre calcada em saudosismo de mero refazimento. Sua base parte disso mas há uma construção de ambiência que na soma das partes supera isso tudo.
O ritmo lento do destrinchamento das situações obedecem ao fluxo do filme de 1982, mas a intenção é sempre a de conduzir a narrativa pra frente. O jogo que coloca K (Ryan Goslin) como protagonista também assume esse gesto de suspeição daquilo o que acreditamos que poderia ser.
Quando tudo enfim se revela, pode parecer que a força dessa descoberta não se dá de modo tão potente. Mas na verdade, a impressão que temos é que tudo foi mesmo parte dessa construção atmosférica. Isso é o que realmente parece importar ao longo do filme.
Não é sobre uma criação mais frenética e objetiva do estado de ação da estória. As lutas, as perseguições e o risco de ataques contra a vida desse agente indestrutível até ocorrem, mas tudo dentro de uma alternância bem modulada e equilibrada, seja em termos técnico ou conceitual.
Interessante a atenção que se é dispensada ao desenvolvimento da natureza da vilania que recobre a narrativa. Afinal, quem são esses antagonistas e o que eles querem desse universo? Poder somente ou há algo mais? Juntos, Wallace Tyrel e Luv encarnam esse ideal disrruptivo de um futuro distópico.
A premissa de Wallace não é dominar o mundo pela força. Até é. Mas ele tem um ponto. O uso da escravidão como método exploratório e uma massa de trabalho mais fraca para que o homem domine as estrelas é um ponto que legitima esse ar sórdido do personagem. Ele se torna crível a partir disso, ainda que nada disso seja justificável.
Na ideia defendida por Michel Marie, essa é uma construção exemplar encontrada no que entendemos como um cinema de terceiro grau. Ou seja, de uma cinematografia pós-moderna que, entre outras coisas, coloca o antagonista para dialetizar outras questões que não somente o embate simplista entre bem e mal.
Sobre o poderio dessa vilania, a sequência do ataque no distrito de lixo de Los Angeles exemplifica esse conceito da potência bélica desses vilões. Como o exército dos Estados Unidos, a corporação de Wallace pode organizar um ataque explosivo à distância enquanto a operadora, Luv, faz as unhas.
Na vida real, os soldados norte americanos os fazem dos joystickers das salas de comando, como fora no Iraque e ainda hoje o é. A guerra, muitas vezes são ditadas e operacionalizadas como um jogo, a brincadeira de adolescente onde a vida se equaliza com a banalidade do estar e da contradição da vida contemporânea.
Essa é a dialética que Villeneuve acaba colocando em primeiro plano no seu filme de modo muito convincente. Não há gracinhas e essa síndrome da nostalgia Hollywoodiana não afeta a obra. Ela se pensa de forma muito séria ao longo das suas 2 horas e 42 minutos de duração.



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