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Carro Rei: a distopia como modismo conceitual

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 16 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

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Direção: Renata Pinheiro. Roteiro: Sérgio Oliveira, Renata Pinheiro, Leo Pyrata. Produção: Sérgio Oliveira, Carol Ferreira. Montagem: Quentin Delaroche. Fotografia: Fernando Lockett. Som: Guga S. Rocha. Música: DJ Dolores. Design de Produção: Karen Araújo.


Até gosto da premissa distópica de "Carro Rei", a princípio. Dentro de um fluxo de produções do cinema brasileiro muito afeito à mistura de simbolismos e um reagenciamento de uma organicidade bem particular - Brasil S/A (2016) e New Life S. A. (2018) elucidam essa vibe da mesma forma - a obra de Renata Pinheiro ensaia (também) esse comentário globalizado de um Brasil do presente.


Afinal, a crítica a esse nacionalismo convulsionante é bem pontuada quando se mistura às questões do poder que vem da lei autoimposta e da reversão alienante das máquinas que cercam o cotidiano desse Caruaru do futuro. E quando refletimos sobre a dinâmica desses tópicos, entendemos que Pinheiro até tem em mãos boas premissas para a experiência do filme de gênero.


Pensando um pouco na questão do estilo, por exemplo, são excelentes as dinâmicas entre a visualidade que o design de produção transparece e sonorização que o desenho de som de Guga Rocha traça na mistura de ruídos presentes no filme.


Tudo isso são potências para o trabalho. Uma força que, infelizmente, vai se diluindo em diferentes frentes, seja pela via da dramaturgia, seja pelos elementos da dinâmica estilística do longa em si.


Quando pensamos nas características da atuação desses atores, por exemplo, não conseguimos ler se esse gesto está ligado a uma proposta consciente de desdramatização inerente à estória ou se trata apenas dessa impossibilidade de determinados atores em entregar uma atuação bastante limitada.


Em linhas gerais, o filme traz de modo bem evidente esse traço das obras nacionais que operam dentro de uma proposta da ficção científica e apostam no conceito, mas que não parecem se preocupar igualmente com essas condições dramatúrgicas que são vitais para o escopo final que a obra assume.


Um bom exemplo de como nossa cinematografia tem subvertido esse desvio são longas como Branco Sai, Preto Fica (2015), Divino Amor (2019) e Janaína Overdrive (2016).


São trabalhos que incorporam esse índice futurístico não apenas por uma via, nesse caso da sua forma, no conjunto dos elementos técnicos da linguagem, mas também no trato da sua concepção temática (o futuro como esse lugar que pode ser uma terra de oportunidades e ameças em uma mesma medida).


Uma pena Renata Pinheiro não conseguir alinhar essas vertentes em favor da narrativa que ela tem em mãos.

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