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Chico Ventana Também Queria ter um Submarino: o minimalismo dos gestos cotidianos


Direção: Alex Piperno. Produção: Esteban Lucangioli, Araquén Rodríguez, Rachel Ellis, Frank Hoeve e Armi Rae Cacanindin. Roteiro: Alex Piperno. Montagem: Alejo Santos, Karen Akerman e Alex Piperno. Direção de Fotografia: Manuel Rebella. Som: Lucas Larriera e Pablo Lamar.


Nesse cinema de gestos mínimos, nos atrai bastante na experiência proposta por Alex Piperno essa ideia da mera sugestão de encontros. E no fato de que, mesmo quando eles ocorrem, isso se materializa através de um jogo que não almeja nos convencer de nada.


Quando olhamos para o espectro de uma cinematografia que busca cada vez mais a lógica de um naturalismo desmemoriado, estar diante de filmes que entendem bem parte simples de certos códigos, como essa construção dialética, é libertador.


Claro que, dentro dessa premissa mais minimalista, em determinados momentos acabamos notando que Piperno reduz tanto que isso acaba afetando o próprio decurso dos gestos assumidos pelos próprios personagens por ele moldados. Antes disso, no entanto, há essa amarra estrutural que ligam certos personagens muito consistentemente por meio daquilo o que eles não precisam provar.


Quando Chico encontra Elsa, o mistério é a ponta do fio que une os dois personagens a partir daquilo o que entendemos que o suspense dará a ver. Mas quando Elsa enfim descobre Ventana como esse intruso em aia casa vindo desse lugar fantástico e portanto antinaturalista, essa tensão se quebra e se converte em outra coisa.


Se transforma na expectativa desconvertida que a má cinematografia normativa de gênero jamais encontrará ou entenderá, infelizmente. Não há brigas, sustos, pânico ou reação equivalente nesse encontro. Ao contrário, tudo está certo. Elsa acolhe o estranho. Chico enfim encontra um lugar para ficar.


Só que ainda há um problema. O que fazer com esses homens asiáticos e representantes dessa cultura tradicional da Ásia inseridos no contexto do filme? Mais ainda: por que, o o olhar deles, diferentemente do o olhar da mulher argentina tem de ser tão diferente? Por que eles não se desvinculam dessa teia arquetípica que a normatividade do olhar genérico viciado endossaria?


Há um certo descompasso nisso. Um desnivelamento que talvez até não notamos a princípio mas que está lá desde o início. Por outro lado, há um índice implícito que acaba revelando que a libertação real de Chico ocorre em função do gesto último desse homem tradicional que é confrontado diretamente pela imprevisibilidade do desconhecido.


Esses embates, de certa forma, são uma dimensão muito cara à assinatura de Pipero desde o seu primeiro curta de 2011. Algo que se relaciona muito a partir da sua investigação sobre aquilo o que é corpo material e espaço físico e no modo como seus personagens transitam, se apropriam ou se afetam por essa relação interespacial.


Filme integrou a seleção oficial do Festival de Berlim, está disponível na Netflix e vale a pena conhecer.

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