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Como Nossos Pais: a trilha da redescoberta da mulher com seu "eu"


Direção: Laís Bodanzky. Roteiro: Laís Bodanzky; Luiz Bolognesi. Montagem: Rodrigo Menecucci. Direção de Fotografia: Pedro Márquez. Produção: Fabiano Gullane. Som: Jorge Rezende. Música: António Pinto.


Gosto de como, apesar do filme ter esse escopo meio de uma dramaturgia encerrada numa atmosfera novelesca, ainda assim a sua resposta formal consiga trazer uma carga de concisão que lhe faz muito bem. Por diversos momentos até esquecemos dos vícios situacionais que rondam a família da protagonista.


Porque aí não é como se estivéssemos o tempo todo desaguando numa série de esquetes cujo objetivo resida apenas na ilustração vazia das questões que eles levam na trama. Bodanzky consegue imprimir uma dinâmica bem orgânica até para os eventos que moldam as vidas dessas pessoas.


Não é que, enquanto espectadores, tenhamos de nos projetar no cotidiano dessas figuras para angariarmos algum sentido dentro de tudo o que a narrativa elenca. Mas é bem evidente como ela consegue gerir situações específicas que dão confluência organicidade no modo como o universo das situações são expostas.


Grande parte disso ocorre em função da própria estrutura de câmbio que a estória evoca. Essa troca de lugar que Rosa assume, mesmo inconscientemente, saindo do lugar da filha defensiva ao encontro de uma área menos defensiva e revoltada com a vida, não ocorre de modo abrupto.


É bom também esse senso de gradação e testagem dos limites que essa mulher vai assimilando capítulo à capítulo. Ela sai do emprego, retoma amizade com um outro amigo, se envolve com ele, passa a questionar a própria vida, se reaproxima da mãe. Ela se permite. E tudo isso é parte dessa engrenagem prática que a leva ao seu inevitável amadurecimento.


Eu não vou entrar no mérito daquilo o que Maria Ribeiro ou o restante do elenco evoca no campo da dramaturgia. A coisa funciona bem quando analisada sob a aliança com o texto de Bodanzky e a própria decupagem e estilização que o filme adota para si. Em outras palavras, é como se esse conceito de uma hiper multiplicidade das construções dos planos arregimentasse uma escala onde cada cena de fato se torna um discurso quadro.


Com isso, a sensação é a de que a estória está indo sempre a frente. E é isso mesmo. Ela só se encerra quando Rosa se torna um pouco mais da sua mãe de um modo que talvez nós intuíssemos desde o começo, mas ela não. Afinal, se isso ela já o soubesse, sua trajetória não teria o teor assertivo que entendemos que ela tem um pouco antes dos créditos finais virem à tela.


Filme está disponível na Netflix e vale a pena ser visto.

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