Closer: os jogos de sorte e azar do amor
- danielsa510

- 16 de ago. de 2021
- 2 min de leitura

Direção: Mike Nichols. Roteiro: Patrick Marber. Montagem: John Bloom, Antonia Van Drimmelen. Direção de Fotografia: Stephen Goldblatt. Produção: Celia D. Costas. Som: Deborah Wallach. Música:Darian Pollard.
Nesse jogo de sorte e azar no amor, a roda de ilusões e pragmatismos é o condicionante básico que modula a relação entre esses homens e mulheres. É muito boa a lente pela qual Nichols desenha esse melodrama erótico ocultando elementos da ordem mais direta do subgênero, como o sexo, justamente para potencializar os fios dramáticos da narrativa.
Quando falamos disso é natural que a análise recaia sobre o desempenho do corpo de atores, tidos como molas - mestras do êxito de um filme com um todo. Mas vale refletirmos um pouco sobre o peso da dramaturgia aqui porque ela, de fato, é a base onde a estória ganha substância.
Não se trata obviamente de ficarmos ditando a performance de Law, Portman, Roberts ou Owen. Juntos, eles formam sim esse quadrilátero incorruptível que concretizam esses tipos. Mas não se trata de um resultado vazio fruto da atuação em si.
Pensemos por um instante na primeira parte da Liga da Justiça do Zack Snyder (2021). Com um elenco bem limitado, o autor sabia que não poderia alocar toda a força do filme nesse coeficiente de atuação dos atores. Ele compensa isso buscando imprimir mais força no componente estético da obra.
A fotografia passa a ser, em muitos momentos, essa moldura frágil, mas segura, àquilo o que o corpo dramatúrgico não conseguia entregar por si próprio. Entendendo não sofrer desse problema com o seu casting, Nichols concentra toda toda a sua força no texto que esse corpus poderia dar a ver.
O resultado é inequívoco e a coisa toda flui bem demais. Mas claro, isso é apenas uma parte da estrutura na qual o filme se apóia. Essa lógica do ocultamento daquilo o que é citado mas que não vemos diretamente nos parece realmente o índice mais sólido do longa. Ação prática e direta, o sexo só existe no universo da elipse.
Ou seja, na ordem do discurso, essa paixão é o detonador de todos os ciclos que vemos nas idas e vindas das vidas dessas figuras. Quando o ato sexual ocorre ou a traição se implicita, não conseguimos vê - la, apenas intuir. O corte entre as sequências sempre arranja um modo de nos jogar um pouco mais a frente na estória.
Desse modo, o que Nichols consegue instituir uma dinâmica interessantíssima de pontuar o erotismo da trama sem lançar mão de uma diretriz mais direta na representação daquilo o que essas quatro pessoas entendem por amor/paixão. Eles não são idealizados, mas nem por isso, o desvio do caráter deles precisa ser estabelecido pelo encontro da carne.
É no campo da dialética que tudo ocorre. E o inferno da interação entre nosso quadrado desvirtuado se dá pela cordialidade e os embates do dia-a-dia. A tragédia dessa a mulheres, por exemplo, é se anularem no esteio da estupidez e arrogância desses companheiros; aos homens, essa derrota se corporifica no ódio, na imaturidade e insegurança de si mesmos.
Esse novo clássico da cinematografia contemporânea norte-americana está disponível na Netflix.



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