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Conto da Primavera: a estação como uma grande testemunha

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 22 de set. de 2022
  • 2 min de leitura

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Direção: Éric Rohmer. Roteiro: Éric Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Montagem: María Luisa García. Fotografia: Luc Pagès. Som: Pascal Ribier.


Éric Rohmer sempre foi um apaixonado pela pessoa humana. Mais do que mostrar esse interesse pela criação de tipos inseridos nas suas narrativas fílmicas, ele preservava muito essa dinâmica de ambiências e situações entre afetos e conflitos.


Aqui não é diferente. Nesse primeiro trabalho da série sobre as estações do ano, ele parte da sua base primordial (o encontro entre estranhos/conhecidos) para desenvolver uma estória de amizade e amor, ciúmes e amadurecimento.


Não preso a rótulos esteriotipantes, sua preocupação é com a tecitura do texto. Desse índice grafal que se ancora na potência inequívoca daquilo o que o seu ator pode colocar em cena. Nesse tempo da primavera, tudo conduz para a otimização dos ânimos.


Mas diferentemente do que usualmente percebemos em outras obras suas, há uma leve inclinação aqui para um estado conflituoso entre as personagens. Não que outros filmes do autor não tenha lidado com isso.


Mas nesse conto, as interações convergem para um incontornável senso de mal estar dos pares, dos trios e quartetos. Ao invés de situações incontornáveis, exercícios dialéticos de exposição de pensamento e visões de mundo.


Seja pela suas combinações ou amantes discordantes, alguém acaba cedendo. Não por que Rohmer assim o queira. Sim, ele manda no texto e por isso o faz de tal modo que sempre em algum momento adiante de um diálogo ou discussão qualquer, nós, no nosso lugar espectatorial, não consigamos lembrar de onde partimos.


Deixados pelo caminho, em muitos instantes nos pegamos já no meio de um outro debate, um novo lugar. Uma discussão sobre liberalismo sexual e falso moralismo na sociedade contemporânea. Não importa e tudo importa nesse cinema detalhes escondidos, esquecidos.


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No testemunho de tudo isso, as flores. Reais, retratadas em pinturas em tela, bordadas numa cortina de uma sala de estar ou impressas num papel de parede. Presentes e oniscientes, elas são as protagonistas de todo o filme. E da sua delicadeza singela é de onde ele parte e se conclui. Maravilhoso.

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