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Coringa: delírio a dois - o cinema como palco da vergonha

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 7 de out. de 2024
  • 3 min de leitura
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Crédito: Warner Bros.

Direção: Todd Phillips. Roteiro: Scott Silver, Todd Phillips, Bob Kane, Bill FingerDireção de Fotografia: Lawrence Sher. Som: Steven A. Morrow, Erik Aadahl. Design de Produção: Todd Phillips, Emma Tillinger Koskoff. Música: Hildur Guðnadóttir. Coreógrafo: Michael Arnold. Montagem: Jeff Groth. Produção: Eric Fellner, Tim Bevan Direção de Arte: Sydnie Ponic, Jared Patrick Gerbig.


É, de fato, uma controvérsia o filme lidar tão mal com a questão da sua sequência ou mesmo sua refeitura, tal qual é o caso, aqui. O Todd Phillips abraça a ideia do retorno ao personagem mas não articula um ideal de sequenciamento justo.


Tentando ir um pouco além do que já se tem dito muito em relação a isso, o que mais chama a atenção é verdadeiramente a adoção dessa dinâmica do avesso, desse engessamento meio que compulsório e consentido que o proponente parece querer sustentar até o fim da narrativa.


Algo que, à propósito, revela ser o ponto de maior fragilidade de toda a estrutura do filme. Porque nem uma articulação mais elaborada em torno dos eventos da estória se percebe aqui.


É como se, de alguma forma, o filme tivesse a vergonha de se considerar um trabalho de subgênero e como uma consequência desse estado buscasse uma desvinculação quase alienante de toda referência que remeta a esse tipo de obra ou ao universo de um personagem como o Batman.


Não se precisaria de uma tese para entendermos a multiplicidade de possibilidades criativas que esse recorte permite. Em se tratando da questão dos números musicais, esse se torna um elemento totalmente dispensável e que, naquele contexto, é colocado apenas como um adereço anti orgânico para o fluxo da trama na sua totalidade.


Se a música vai ser um índice condutor da narrativa, isso teria de vir minimamente integrado ao escopo do modo como as coisas iriam se suceder no filme. Penso que uma das maiores referências, para não sairmos dia projetos de super-heróis, é Legion (2017 - 2019).


Ali, sim, você tem uma proposta que ajuda a pensarmos uma base para redefinição de como a musicalidade pode ser incorporada de modo criativo a esse processo. Os números musicais falam daquilo o que é dialetizado por esses seres fantásticos. Falam das suas forças e fraquezas, da dualidade não como uma ferramenta de alienação, mas de modulação dos limites entre a heroicização e a vilania.


Noah Hawley e sua equipe conseguiram criar batalhas musicais que verdadeiramente trabalhavam com uma escala épica desse fazer espetacular (na televisão). Tudo isso em 2017, portanto, há um tempo, já. Logo, ver um projeto como esse de Phillips é ter uma dimensão do quanto esse aspecto referencial passa ao longe de uma parcela dessa Hollywood desmemoriada mesmo.


O discurso sobre a recusa ou a crítica a uma suposta espetacularização também não encaixa aqui. A questão também não é essa. O cinema é uma arte espetacular por essência e a crítica, nesse caso, sequer cabe, porque o problema não é o pretenso criticismo "autoral" que a obra viria a outorgar - ela não existe na verdade.


Retornando um pouco ao universo da televisão mas sem sairmos dos tipos criados por Bob Kane e Bill Finger, a animação da Amazon Studios, Batman: Cruzado Encapuzado (2024), lida infinitamente melhor com todos os pressupostos canônicos e não canônicos desse personagem de um modo que esse filme jamais conseguiria fazer.


A questão é que parece não haver maturidade suficiente por parte de uma produção dessas para lidar com coisas mínimas como por exemplo, uma cena de sexo em uma obra de classificação indicativa 16 anos.


É vergonhoso, fora outros pontos como o subaproveitamento de personagens que poderiam ser reimaginados em suas origens, como Harvey Dent (a série de animação faz isso com muita responsabilidade, diga-se).


Enfim, detesto o argumento que coloca aquilo o que o filme deveria vir a ser ou que propõe o refazimento da obra a partir daquilo o que acreditaríamos querer ver, mas a verdade é que pouca coisa resta da incursão de Phillips e da DC para além do desejo de se livrar do seu protagonista ao fim das contas.


Uma posição covarde, até, de um processo de pouco apreço à estratégia que o cinema pode ser de reimaginação de imaginários e desconstrução das normas estabelecidas pela própria gramática cinematográfica, e nesse caso, pelos próprios códigos que a indústria mainstream concede.

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