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Disque M para Matar: o cinema como um jogo da imparcialidade

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 12 de jun. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de jun. de 2023


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Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Frederick Knott. Produção: Alfred Hitchcock. Montagem: Rudi Fehr. Fotografia: Robert Burks. Som: Gary Rydstrom. Música: Dimitri Tiomkin. Direção de Arte: Edward Carrere.


É impressionante como Alfred Hitchcock, partindo de premissas estruturais no campo da forma tão simples, conseguia constituir tamanha complexidade na massa fílmica em sua totalidade. A base do filme é o thriller por excelência e em diversos momentos da obra ele faz questão abertamente de deixar isso explícito.


Seja colocando em prática os eventos de modo bem direto ou criando citações metalinguisticas para a reafirmação da trama em si. Quando vemos a personagem de Margot falando sobre seu medo em escutar radionovelas de suspense nas noites de sábado é exatamente isso que acontece.


É como se a personagem fizesse uma referência direta ao próprio universo diegético que o filme evoca e do qual ele é feito. Ainda em temos estruturais, chama bastante atenção essa eficiência do olhar que os grandes realizadores do cinema moderno detinham no modo como eles entenderam o desenvolvimento dessas estórias.


No caso específico de Hitch, ele monta todo o jogo cênico e narratológico logo nos primeiros instantes do filme para nos deixar a par de toda a problemática que a narrativa concentra. Se na trama, um marido arma o assassinato da própria esposa a fim de garantir vantagens futuras com isso, esse arco é só uma parte daquilo o que acompanharemos durante os 100 minutos da projeção.


Não há nada que o espectador já não saiba em relação àquilo o que o enredo coloca. O que ocorre após isso é o que vai modular a posição e o investimento do espectador a partir de então. Esse é talvez o maior brilhantismo do filme. É essa consciência do autor em levar quem assiste aonde ele quer que ela vá.


Ao longo do caminho, entendemos que não há quem seja moralmente modelo para a sociedade daquela primeira metade da década de 1950. A esposa infiel, o amante que se passa de amigo do marido traído, o marido em si que guarda segundas macabras intenções com a sua companheira, e o agente da polícia interessado em resolver o caso da forma mais imparcial possível, mas que ainda assim possa ser induzido, em meio a isso, ao erro.


Esse é um traço interessante porque mesmo a figura do inspetor não é apresentado, a princípio, como uma figura do "bem". Suas intenções vão sendo construídas à medida que as situações vão sendo destrinchadas e os elementos do crime, se resolvendo.


O fato é que o traço principal que Hitch estabelece aqui é a impassibilidade em maior ou menor medida de cada um desses personagens. Mas antes de concentrar sua atenção a esses tipos, o filme lida em primeira escala com a sua própria ordem estrutural.


Há a apresentação do plano de um crime, a execução em si, os desdobramentos disso e o desenrolar do arco investigativo e suas consequências nas vidas dos envolvidos. Dramaturgia e forma fílmica muito bem amarradas na constituição do cinema como exercício de apresentação de estórias marcantes.

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