Divertida Mente 2: admirável mundo adstringente
- danielsa510

- 25 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jun. de 2024

Direção: Kelsey Mann. Roteiro: Meg LeFauve, Dave Holstein. Montagem: Maurissa Horwitz. Direção de Fotografia: Adam Habib, Jonathan Pytko. Produção: Mark Nielsen, Kim Collins. Som: Coya Elliott, Stephen Urata, Heikki Kossi. Música: Andrea Datzman, Michael Giacchino. Efeitos Visuais: Dovi Anderson, Evan Bonifacio.
O filme nos convida a essa reflexão sobre a condição plástica do cinema de animação na contemporaneidade. De como essa característica do gráfico animado em computação se volta para uma representação que não é mais tanto antinaturalista, a exemplo do que tínhamos em Toy Story (1995), mas que (emula?) o estado físico da condição humana de um modo que muitos trabalhos em live action dos nossos dias, por exemplo, não conseguem.
Claro que isso não significa dizer que esse lançamento da Disney / Pixar evoque algo mais substancial devido a esse traço. Mas é curioso notar o quanto a experiência do cinema contemporâneo não nos permite dá a ver isso.
Enxergarmos esses traços de uma materialidade quase da ordem do tangível. De um testemunho onde diante de uma imagem que, ainda materializada em uma tela, nos permite essa impressão sensório-perceptiva daquilo o que poderíamos tocar com as mãos e não apenas ver com os olhos.
Algo muito presente, aqui, nas gotículas de suor no rosto das personagens durante uma partida de hóquei ou na acne avermelhada no queixo de uma adolescente que passa pela transição da infância para a puberdade.
Nesse sentido, o "desenho animado", por vezes soa como situacionado pela própria "realidade" como a entendemos na dinâmica narrativa cinematográfica e nos aparece "como se fosse" o real captado pela câmera em si.
E se falamos desse percurso que o subgênero alude, tudo isso também ganha o reforço da tendência que uma vertente da cinematografia na contemporaneidade tem de suprimir das suas bases toda e qualquer expressão de sexualidade que seja.
A questão aqui posta é curiosa, já que o impasse colocado reside nessa representação de uma juventude em transição e cuja carga emocional remete a múltiplas sensações com exceção de uma: a libido. Para um filme classificação livre fica evidente que a questão não seria tratada.
Mas olhando em retrospecto uma determinada faixa de produções dos últimos 20 anos - os filmes de super-heróis são um caso exemplar disso - a sexualidade passa a ser exclusa. Não tanto pelo estímulo da corporeidade das figuras ali personificadas, mas sim pela ausência de qualquer indício de tensão libidinal que seja. O texto de Raquel S. Benedict desenvolve tópicos interessantíssimos a respeito disso.
Voltando à Disney, as garotas não lidam com os pares, independente da orientação sexual dessas jovens. E mesmo quando entramos naquilo o que seria o subconsciente delas, não há um traço que seja disso. E até há, na verdade. Mas a representação permanece trancafiada em um lugar onde nenhum outro sentimento ou emoção opta por ficar.
É uma configuração e leitura moralista e por consequência condizente com essa formulação de um mundo adstringente, casto e puritano da juventude que não quer ver o sexo (pelo menos não diante do dispositivo formado pela tela, a projeção, a sala escura e compartilhada com outras pessoas).



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