Duna - Parte 2: os méritos da areia
- danielsa510

- 6 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de mar. de 2024

Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Denis Villeneuve, Jon Spaihts, Frank Herbert. Montagem: Joe Walker Direção de Fotografia: Greig Fraser. Produção: John Harrison, Cale Boyter. Design de Produção: Patrice Vermette. Efeitos Visuais: Paul Lambert. Música: Hans Zimmer. Som: Ron Bartlett
A força de um soldado não está na sua espada, mas no escudo do soldado ao seu lado. A frase, atribuída ao rei Leônidas, é um modo de lermos essa segunda parte da adaptação de Villeneuve à obra literária de Frank Herbert.
Claro que, longe de tomarmos o filme como "uma ficção-cientifica para adultos", mais vale olharmos para ele como um projeto que, apesar de algumas ressalvas, leva o mérito de se observar a partir de um ponto de referência minimamente sério.
Essa seriedade, obviamente, também não está relacionada a um grau de superioridade ou inferioridade dentro do esquema contemporâneo do blockbuster hollywoodiano contemporâneo. Villeneuve entende todo esse esquema construtivo da indústria no ocidente e por isso mesmo que seu filme se estabelece a partir de uma lógica conceitual do trabalho em grupo.
Concepção essa que é igualmente a tônica de um projeto que opera na escala de um grande evento em sua maior parte. E assim como no primeiro filme de 2021, esse novo capítulo preza muito pela grandiosidade dos planos e de todo o seu aspecto plástico e sensorial.
Aqui, é importante atentarmos para a experiência do cinema em duas dimensões e seus efeitos práticos na dinâmica da arte cinematográfica nesse século. A sequência onde Paul vai tentar tomar o verme gigante pela primeira vez representa isso muito bem.
Há o índice da ação, elemento central dos trabalhos do gênero, mas a forma como esse componente é registrado e executado se âncora fielmente nessa perspectiva onde o "minimo" se manifesta para equiparar o máximo que a arte do filme pode alcançar.
E nesse caso, isso tem a ver com o impacto sensorial que a cena exerce no corpo do espectador na sala. No esquema do modelo de representação institucional, tido aqui pela sala de cinema nas suas condições centrais ou ideais, a impressão que temos, do espaço da sala em si e do assento em particular, é onde que o verme "se torna" essa espacialidade em si.
O estímulo imagético vem da força que as imagens imprimem na tela e a banda sonora é o responsável pelo fechamento desse ciclo. Na dispensa do 3D, o cinema encontra, em exemplos como esse, sua potência em tudo aquilo o que ele pode ter na sua natureza prática.
Particularmente falando, podemos utilizar a metáfora dos méritos do elemento mais representativo do universo criado por Herbert: a areia. Formada por múltiplos grãos que na sua conjuntura dão a ver a forma de um infindável deserto, esse elemento geográfico é, também, a metáfora do filme em conceito e forma.
No plano da obra, é o conjunto que garante a força desses personagens nesse mundo em guerra. E no nível do contexto artístico-industrial, ela é essa força épica que certamente reinvidica um lugar de reordenamento de um cinemão que órbita entre a força revitalizante da experiência independente (independentemente do que isso possa significar no norte global) e a exaustão do blockbuster ocidental (hollywoodiano), sobretudo aquela vinculada aos filmes do subgênero de super-heróis sentida ao longo dos últimos cinco anos.
É nesse terreno onde, de fato, Villeneuve opera junto à Warner. Seu trabalho é impecável? Não. Porque se atentarmos aos detalhes que estão ao largo do arrebatamento do componente do design de produção, da fotografia e do uso do som, batemos de frente com um ruído que, aqui, se personifica no papel executado pelo ator, leia-se, a personagem de Chani.
Infelizmente, a figura mais dissonante e inconsistente de toda essa segunda parte do longa e que, por consequência, acaba contaminado a obra com um tom frágil e característico dos rebanhos que evocam figuras da recusa, do rancor e da incompreensão.
A negação é a base de tudo na boca desses tipos. Um traço ausente em alguns dos melhores filmes de Villeneuve: Os Suspeitos (2013) e Sicário (2015). Tudo leva a essa compreensão.



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