Duna: uma ideia sobre a densidade cinematográfica
- danielsa510

- 25 de out. de 2021
- 3 min de leitura

Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Denis Villeneuve, Eric Roth, Frank Herbert, Jon Spaihts. Montagem: Joe Walker. Direção de Fotografia: Greig Fraser. Produção: Joseph M. Caracciolo Jr. Direção de Arte: Peter Popken. Música: Hans Zimmer. Design de Produção: Patrice Vermette
Não me incomoda o fato de Denis Villeneuve adotar essa abordagem mais obtusa e indireta no desenvolvimento daquilo o que ocorre no universo dos seus filmes. Há realizadores que lidam com isso de diferentes formas e tudo bem. Quando vemos notas máximas para as obras de Paul W. S. Anderson, é sobre isso. Seus filmes, por lidarem com a ação de modo mais direto, agrada uns mais que a outros.
O que é interessante porque o diretor atua numa esfera distinta dessa prática. Suas estórias tendem a um caráter mais orientado para a exploração da densidade das situações e da ambiência que circundam as figuras por ele descritas. Não que Anderson também isso não faça. Ele o faz. Mas são escalas diferentes. E repito: tudo bem.
A exemplo de Blade Runner, Duna evoca uma trama de características bem específica. A ficção científica abarca esse tom mais solene do modo como as coisas e os personagens envolvidos são apresentados. Mas nada que diga respeito a uma construção contrainteligivel.
O filme fica por isso numa espécie de mio termo do blockbuster que adota e refuta certos traços específicos desse tipo de cinema. Na esfera daquilo o que ele acolhe, os efeitos visuais e a trilha constante de Hanz Zimmer (apesar de não muito marcante, devemos dizer) operam em primeiro plano.
No campo daquilo o que ele abre mão, alívios cômicos e essa ação diretiva e sequenciada parecem estar mais evidentes. Essa relativa seriedade faz bem para o cinema de mainstream. A impressão que ficamos é a de que nem tudo se dissolve na eteriedade de uma lógica pasteurizada acionada por Hollywood.
Isso pode ser tido, sim, como um mérito da cinema de Villeneuve, goste - se dele ou não. Daquilo o que o filme move e parece ser de maior potência, ressalta - se esse caráter simbólicos no uso de determinados elementos narrativos. A questão do sangue, surge aqui tanto na ordem simbólica quanto prática, a partir do que conseguimos visualizar na tela é para além dela.
Em níveis simbólicos, é a ideia da linha sanguínea, dos laços familiares e afetivos que a estória estabelece e que o longa delimita muito bem, ainda que de forma convencional e sutil. Essa consaguinedade chama atenção para o valor dessas relações que se estabelecem não apenas pela veia biológica, mas também de valores como a confiança, o dever a ser cumprido e singularidade da intuição.
Na esfera do que vemos no nível do plano, não verdade essa sanguinolência se restringe quase a um caráter mítico. Tudo o que temos é a mostra figuras dessa mão ensanguentada. Isso enquanto um frame de um futuro que não sabemos se o será. Logo, essa é uma marca de uma violência que o filme reprime numa dinâmica interessante porque ainda que a luta e o confronto instiguem essa exposição mais gráfica, ela praticamente não ocorre.
Esse é um aspecto asséptico de uma concepção imagética passando por Sicário (2015), A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017). São escolhas de representação que convergem muito para um olhar utópico da representação do mundo que Villeneuve adota enquanto assinatura fílmica. Mas nada que retire a força dos seus projetos. Talvez essa seja uma extensão direta dessa visão que ele imprime nas estórias com as quais ele lida diretamente.



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