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E Tua Mãe Também: a condição de inexorabilidade do amadurecimento humano

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 6 de set. de 2021
  • 3 min de leitura

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Direção: Alfonso Cuarón. Roteiro: Alfonso Cuarón, Carlos Cuarón. Montagem: Alex Rodríguez. Direção de Fotografia: Emmanuel Lubezki. Produção: Alfonso Cuarón, Jorge Vergara. Som: Skip Lievsay.


Esse cinismo meio bobo, meio infantil de Júlio e Tenoch não necessariamente precisa ser lido unicamente como uma etapa na construção de uma arquetipia da natureza dos garotos em si. Importante partirmos desse ponto porque acima de tudo, esse é um filme sobre personagens. Mas não exclusivamente acerca das figuras dos protagonistas.


Gosto bastante do modo como Cuarón vai costurando o paralelismo entre a narrativa que se centra na trinca formada pelos garotos e Luísa, nem como sob os eventos e demais cidadãos e aldeões desse México esquecido em tudo o que parece haver de mais forte nas sua cultura e sociedade.


Claro que essa é uma conexão que fica muito na superfície, mas ainda assim cria uma atmosfera dinâmica e relativamente descentralizada em relação ao trisal principal. É como se, cada uma das repentinas, mas marcantes inserções desses causos, fomentassem aos pouquinhos a atmosfera macro que recobre os viajantes.


Nunca nos deslocamos da estória principal, mas de algum modo sempre ficamos com a impressão de estarmos saindo e voltando novamente para o filme na sua vertente ficcional. É óbvio que entendemos estar diante de uma representação fabular da vida.


Mas a fluida condução dos eventos aliada à performatividade que a sua dramaturgia em si evoca nos leva indistintamente para dentro do longa muito facilmente. Mais uma vez, não cabe ficarmos falando da atuação de Gael, Luna ou etc. A experiência desse drama erótico não passa por isso. É mais sobre inexorabilidade do amadurecimento diante da vida que qualquer outra coisa.


Isso ocorre de uma só vez? Há uma ponto específico em que podemos atribuir onde ocorre essa mudança de chave? Não. Tudo ocorre no processo desse final de semana que separa tantos esses jovens homens quanto essa desesperançada madura mulher de tudo aquilo o que cada um deles não sabem ser ainda. Esse índice de lenta maturação da vida é uma das grandes belezas do filme.


Quando falamos dessa dimensão do belo, inevitavelmente caímos no trato da fotografia. Novamente, não importa ficarmos aqui exaltando como Lubezky lida com o regime imagético e estético, num sentido da plasticidade dessas imagens que o longa dá a ver. Claro, essa fotografia hipnótica é parte definitiva da alma do filme como um todo. Mas ela não diz respeito a "estezis" fatalmente. Há muito mais aqui.


Como por exemplo entendemos que o jogo que esse componente estabelece está muito mais na ordem simbólica do que naquilo o que perceberíamos enquanto manobra maneirista, insipidamente. Essa câmera flutuante que está sempre tão próxima dos atores assume esse estado muito pelo impulso de buscar ela mesma assimilar esse estado desencapsulado de ser.


A lente que vagueia pelo ambiente doméstico e o espaço aberto, pela especialidade interna e a área externa, parece tentar se desvencilhar desse estado protocolar e rígido que compõem a fixidez dos planos e plasticidade higienizada de uma captação livre de imperfeições. Esse trepidar da câmera que se move constantemente é a carta pictórica de compromisso com a proposta do filme em si.


Quando Cuarón filma décadas depois Roma (2019), a lógica se reverte. Daí a plástica das imagens assume a frente para registrar a dinâmica interiorizada e exteriorizada agora sob a perspectiva de uma captação que busca investigar essa imagética do solene. Alguns evocam a vertente maneirista no caso. Mas essa é de fato toda uma outra discussão.

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