Furiosa: dialética em torno da força
- danielsa510

- 27 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de mai. de 2024

"Furiosa: uma saga Mad Max" resguarda, de fato, essa veia mais orgânica de um cinema de ação pautado no modo como os eventos são, mais do que encenados, encadeados. E nesse caso, George Miller elabora isso dentro de uma estrutura que funciona muito bem por estar vinculada a uma proposta cosmológica que tem início e se encerra em seu universo pós-apocalíptico.
Dentro de um mundo sem esperanças e habitado por figuras semimortas, quando não já cadavéricas, essa parte da série se volta para as pontas deixadas em "Estrada da Fúria" sem tentar rever ou ressignificar o trabalho anterior, o que por si, soa como uma forma bem honesta de se retornar a um ponto de origem.
E diferentemente do seu antecessor, nessa parte ele opera em um esquema de uma ação, talvez não maior, mas muito mais "blocado", compartimentado em momentos ou capítulos interrelacionados.
Sei do debate sobre a perspectiva da gamificação no cinema mundial contemporâneo, mas não acho que seja esse o caso. Não se trata disso. A serialidade parece muito mais ligada ao esquema de condução daquilo o que ocorre entre esses mesmos capítulos do que dentro de um esquema fase a fase.
Do sequestro da criança que conduz à perseguição pela mãe, do encontro entre Immortan Joe e Dementus ou do início dos embates envolvendo o tráfego e e as intervenções em torno do uso dos combustíveis e alimentos daquela terra, tudo vai se agenciado nessas pastas que tem como fundo primário a construção dessa mitologia da protagonista.
E apesar de não estarmos diante de um filme de personagem em si, é o desenvolvimento do fatos de como essa figura se tornou quem ela foi até os eventos de "Estrada da Fúria" que regulam o curso da narrativa. Isso é interessante porque pensando um pouco na Furiosa de Charlize Theron, a personagem entregue por Taylor-Joy evoca essa aura de inexperiência, mas não imprudência.
Certamente porque Miller não quis arriscar desvincular a natureza entre as duas representações entre aquele filme e esta prequela. Falar da força do protagonismo, aqui, também nada tem a ver com qualquer aspecto da fisicalidade. Porque ainda que o universo esteja orbitado por essas figuras másculas fisicamente, esse elemento imagético-corpóreo não guarda relação com o poder de se impor sua força.
A própria figura de Dementus em nenhum momento tem sua caracterização vinculada a esse aspecto. E no momento em que ele demostra maior potência de vilania, isso está intrinsecamente relacionado àquilo o que um componente maquínico, no caso, o veículo, é capaz de fazer naquela realidade.
Sem dúvidas, o filme se utiliza bem dessa lógica para construir uma ação mais pautada pela organicidade da coreografia entre o espaço, as câmeras e o corpo de atores em cena do que por meio de cenas de combate direto.
Com exceção do embate no último ato, não há uma cena sequer nessa ordem, o que reforça essa intenção do Miller em, talvez, buscar nessas outras formas de manifestação da força dialetizar o que é ter poder nas terras devastadas daquele lugar.
Ser forte é ter a resiliência para seguir em frente, não desistir diante da impotência causada pelo terror da violência e pela agonia de toda e qualquer esperança drenada nesse contexto.



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