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Ida: na rota de colisão de um mundo em provação

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 6 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura

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Direção: Paweł Pawlikowski. Roteiro: Paweł Pawlikowski, Rebecca Lenkiewicz. Montagem: Jarosław Kamiński. Direção de Fotografia: Ryszard Lenczewski, Łukasz Żal. Direção de Arte: Jagna Dobesz, Dorota Borkowska. Produção: Eric Abraham, Piotr Dzieciol, Ewa Puszczynska. Som: Andreas Kongsgaard, Claus Lynge, Michael Dela. Música: Kristian Eidnes Andersen.


Não consigo desacreditar Pawlikoski pela condução do filme. Por mais que entenda as decisões formais que ele toma na obra como um todo, a adoção dessa linha não me soa como um descartável uso para mero apelo estetizante.


Tudo na forma do longa converge para essa hiperestilização, mas não como um sopro maneirista apenas. Tomando pelo seu topos estético e conceitual, o filme imprime um ideal bem sólido que a meu ver até supera ou sublima de certa forma o próprio ponto do tema da estória em si.


Ou seja combinados, esses elementos dão conta de um fenômeno muito interessante da cinematografia contemporânea. Falamos de uma natureza de reapropriação e até releitura e novas proposições da experiência do cinema narrativo em si.


Ou seja, esse esquadrinhamento pode ser tomado por traços como o uso de determinadas características clássicas (a tela 4x3, a fotografia preto e branco, os planos fixos) mas também pós-modernas (as elipses e traços fragmentados de construção entre as cenas, os desenquadramentos, e a opacidade na construção da psique dos personagens).


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A ideia de desenquadrameno é muito forte no filme.

Portanto, há um esforço sintetizado nesses traços do filme que o lançam, sim, para além dessa análise reducionista que esbarra e se esvazia já no corpus da plasticidade da imagem. Até entendo a crítica legitima desse tipo de projeto. Mas quando há potências enrustidas na sua gênese, é justo se dar o devido crédito.


Essa premissa formalista e brutalista de Pawlikoski é a mesma refletida nessa imagem que muitas vezes revela essa frieza de um cinza que contamina tanto os ambientes internos quanto externos do filme na sua totalidade. Somado a isso, dá-se a própria natureza incorruptível de Ida, não como reflexo desse milagre vivo na terra.


Ela mesma se coloca numa rota de colisão errante desse mundo duro. Um lugar que no contexto daquele pós-guerra estava no seu ano zero, para citarmos Rossellini e seu pensamento fundante daquilo o que a belicidade representou para a humanidade naquela segunda parte da história do século XX.

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