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Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita Não é um Urso que Dança: o espírito da "kinopolítica"

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 7 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de jul. de 2021


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Direção: Thiago B. Mendonça. Roteiro:Thiago B. Mendonça. Montagem: Thiago B. Mendonça. Direção de Fotografia: André Moncaio. Som Direto: Marcela Santos. Produção: Renata Jardim. Direção de Arte: Camila Gregório. Música: Kiko Dinucci.



Qual a sua utopia? Dentro do atual contexto em que vivemos, essa pode ser uma questão dificílima de se responder. Vivemos um presente complexo sublinhado basicamente por uma população desassistida em vários aspectos e um sistema político volátil e desacreditado. Nesse denso panorama é que o cinema se coloca. E quem já viu ou teve o prazer de assistir “Jovens Infelizes: Ou um homem que Grita não é um Urso que Dança” (2016) sabe do que estou falando.


É claro que o filme em si, como fruto da experiência do cinema, não pode ser visto de maneira isolada. E o primeiro longa metragem de Thiago B. Mendonça se propõe muito a um diálogo aberto com esse “pensar de País” a partir dos nossos próprios processos formativos e das escolhas que fazemos para a construção dos nossos dias. Ideologia, arte e política são trabalhadas de forma indissociadas. Para isso, no entanto, Thiago apostou numa radicalização da sua proposta como princípio.


Difícil, então, é dizermos da sinopse do filme como convencionalmente fazemos. Mas vamos lá. Em tese, um grupo de sete jovens ensaiam um número de uma peça de teatro intitulada: Um home que grita não é um urso que dança”. Ao mesmo tempo, o Brasil passa por um turbulento momento com manifestações da população nas ruas. Tudo isso é colocado no longa como ficção, mas essa é uma condição que se estabelece muito mais por uma questão de método da cinematografia.


Método porque a equipe adota a narrativa numa estrutura ficcional. Mas o exercício de desconstrução é levado para o filme não apenas em conteúdo, mas na forma também. Por isso temos uma estória contada por meio de passagens. São capítulos que, agrupados de trás para frente, nos dizem como os eventos do longa terminam. Ou melhor, tem início. O fato é que a escolha funciona e nos guia bem no fluxo que a obra nos sugere. Esse ar de “sugestão” é um dos muitos pontos que potencializam bastante “Jovens Infelizes”.


As influências ideológicas e estéticas da equipe que compõem o filme estão sob uma linha muito tênue. E isso é o que dá seu tom franco. Não nos enganamos. Porque quando em uma das passagens/capítulos, vemos nossas personagens assistindo a um trecho de “Alma Corsária”, clássico do cinema nacional realizado por Carlos Reichenbach, a ideia é necessariamente a da reverência mesmo. Thiago e a equipe dizerem: “Carlão, obrigado por tudo. Pelo seu cinema!”.


As referências são, logo, a plataforma que impulsiona o filme para frente em diversos momentos. Mas esse jogar-se adiante não vem casuisticamente. Ele surge no tempo em que nossa mente e retina nos atestam que ali se consuma mais um trecho de uma obra que se propõe total.


Toda e qualquer generalização, sabemos, ressoa perigosa. Mas acredite, da essência desse longa, essa totalidade é, de fato, a afirmativa de que tudo o que se havia a ser dito em seus 120 minutos de metragem foi dito. Sem excessos. E somente para aquele que explode pelas viscerais personagens na tela.


O cinema não vai resolver os problemas do mundo. E esse sequer é o seu papel. Sua relevância, dentre tantas, é também a de gerar desconforto. De apontar perspectivas que, em último caso, nos tire do transe em que possamos estar inseridos. E se a urgência nos implora o despertar, cabe à arte fazê-lo por nosso bem. Da linguagem, “Jovens Infelizes” nos arrasta a um convite despretensioso de uma narração que se simula casual. Do fim para o início, entendemos porque para “começarmos de novo é preciso destruir”.


E a radicalidade do fazer artístico é a metáfora catalisada de um agir que já não podemos deixar para depois. Porque o processo político-social que acompanhamos atordoados hoje não pode ser a confirmação da luta que perdemos nosso ontem. E se a ditadura ontem mesmo venceu (e isso é um fato que o filme alerta), cabe a nós, agora, cuidarmos para que a história não se reproduza como um padrão. Como faremos isso?! Radicalizando os processos da produção artística, sem mascaramentos. Valendo-nos daquilo o que de mais potente a arte pode nos ativar: nosso estado de consciência. Essa é uma das grandes premissas de “Jovens Infelizes”.




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