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Lua Vermelha: e o paradigma da cinematografia ainda por vir

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 28 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de jul. de 2021


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Direção: Lois Patiño. Roteiro:Lois Patiño. Montagem: Lois Patiño, Pablo Gil Rituerto. Direção de Fotografia:Lois Patiño. Produção: Felipe Lage, Iván Patiño. Som: David Machado. Direção de Arte: Pablo Lomba.


O cinema ainda não fora inventado, afirmam alguns teóricos e pensadores da forma da arte, entre os quais se destaca bastante o ponto de vista de André Bazin. Talvez seja nesse ponto de inflexão que Lois Patiño encontre inspiração e terreno para sedimentar a experiência da sua cinematografia. Interessante como, muitas vezes, a impressão que temos é a de estarmos diante de proposição narratológica que ainda não fora criada.


É claro que isso não se trata de fincar uma marca ou coisa do tipo nos projetos e forma com que o realizador galego vê o mundo e o transpõe por meio das imagens também por ele concebidas. Há muito de uma cinematografia dos primeiros tempos aqui, daí essa veia do inominável. Mas há também muita referência dos experimentos vanguardísticos do início do século XX.


Enxergamos muito daquilo o que Tarkovsky, por exemplo, pensava como uma ontologia imagética que prescindia de qualquer banda dramática de cunho meramente expositivo. A estória pode residir em meio a essa imagens do sonho, do passado, do presente e do futuro. São uma imbricação só, de modo que uma certamente não resistiria sem a outra. Por isso também não notamos, no cinema de Patino, espaços para maneirismos apenas.


Essa construção estética no entanto, não parece visar um esvaziado engajamento do espectador como se ela presumisse que esse sujeito estivesse destituído da sua faculdade de entendimento dos desejos que se enclausuram no interior das mesmas imagens. Pensemos por um momento em Ema (2019), de Pablo Larrain. É um bom exemplo dessa dinâmica onde o elemento estatizante se torna mais um gesto cosmético do que necessariamente estético.


A imagem em movimento, ponto de culminância na dialética com o som, opera apenas para a ilusão do inebriamento de uma transparência invertida. Você vê através daquilo daquilo o que a câmera captura, mas tudo soa mais como fetiche de reprodução de uma experiência de consumo do belo em uma pseudo entrega de representatividade da subjetivação que a obra em si quer demonstrar. O que Larrain quer nos dizer, de fato, com a profusão de cores e tons néons em que seus personagens estão inseridos?


Pouco parece restar quando essa aparente complexidade contamina a proposição do filme como um todo. Não precisa ser incompreensível. Essa pode ser uma primeira partilha que Patino faz conosco. Pode ser simples. Tudo bem. Temos um vilarejo, uma comunidade que parece ter sido destituída de sua crença no futuro e calor humanos e um monstro milenar que opera sua influência sob essa terra.


Quem os poderá ajudar? Surgem as bruxas. E assim como todo o corpo dramatúrgico do longa, elas são quase "não personagens". Seus gestos são mínimos. E essa é uma condução que acompanha a própria proposta do filme na sua veia minimalista. Ainda que sempre notemos essa profícua situação onde para a simplicidade que a obra evoca, sempre resida também em um mesmo extremo esse princípio imagético - sonoro imodular.


Não importa o que aconteça, nada nos salvará da imobilidade que nos paralisa diante desses ícones que muitas vezes não conseguimos nominar. Imagine por um momento uma grande correnteza que escoa de um duto imenso. Por um instante, você até acredita poder acompanhar o decurso da água captada pela lente da câmera. Logo, o olhar te trai. Qual o eixo de direção que teu olhar obedece a certo ponto? Essa é a prolífica relação com a dinâmica desses cinema do futuro.


Não por que ele rompa com tudo já feito, mas pelo contrário, justamente por partir de tudo já pré-existente para se permitir modular novas dinâmicas na prática da realização. A narrativa não precisa ser um tópico amaldiçoado. Ele só precisa ser compreendido para além das formas e sentidos vigentes. É sobre isso o que o sentimento da vanguarda fala. Aspecto esse do cinema da contemporaneidade que encontra no olhar de autores como Pedro Costa, Bertrand Mandico e no próprio Lois Patiño seus mais representativos expoentes.


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