Luz nos Trópicos: um exercício de reelaboração da densidade
- danielsa510

- 30 de abr.
- 2 min de leitura

Direção: Paula Gaitán. Roteiro: Laís Santos Araújo. Produção: Vitor Graize, Eryk Rocha, Paula Gaitán. Montagem: Paula Gaitán. Fotografia: Pedro Urano. Direção de Arte: Diogo Hayashi. Som: Marcos Lopes.
Reelaborar a densidade. É partindo dessa premissa que Paula Gaitán parece agenciar Luz nos Trópicos (2020) tendo como referência a ideia de uma linha circular. Nisso, dobra-se o tempo, que vai e volta, avança e retrocede, sempre sem necessariamente ter de se apoiar em etiquetas situacionais para acomodação do espectador.
A experiência é do campo da distensão mesmo. Do esgarçamento das situações vivenciadas na realidade do filme e daquela percebida pelo tempo da vida de quem está do outro lado da tela. Não é sobre a duração. Porque, com o tempo, vamos entendendo que não importa a relação criada pelo fluxo da diegese.
Se um personagem aparece no primeiro ato e desaparece quase por completo no segmento seguinte, não importa. Ele retorna mais a frente, mas sem estar situado na obrigação de ceder a uma construção de sentido naquilo o que entenderíamos de dentro de uma estrutura narrativa de gênero convencionalmente falando.
Mas a intenção de Gaitán não passa pelo uso de convenções. Sua ficção rarefeita prescinde de uma sistematização nesses moldes. Está além da compreensão pautada por uma cartilha pedagógica de correlação entre tudo o que o é som e imagem na obra.
A princípio, ficamos com a impressão de que a estória vai, senão linearmente, mas aparentemente de modo centralizado, acompanhar esse retorno do personagem de Begê Muniz ao Brasil.
Mas antes que o fluxo desse movimento se estabeleça, a estrutura fragmentada do filme realoca o olhar (de si próprio e do espectador) para um outro recorte de tempo e visada perspectiva.
E no fluxo daquilo o que tenha se perdido em algum lugar da historiografia luso-brasileira ou ibero-amercana, fica um convite a nos abandonarmos no meio da busca por um sentido lado do conto proposto por Paula.
Tudo se esvai como na corrente dos rios que jamais se iniciam ou terminam e no descerramento de todo e qualquer intento de se interpretar as imagens, os sons e ruídos na obra. Vai-se a necessidade de a tudo isso parametrar e fica o convite a esse abandono em meio a esse sentido opaco da narrativa do futuro.



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