Maxxxine: o problema operacional de um cinema de emulações
- danielsa510

- 15 de jul. de 2024
- 3 min de leitura

Há pelo menos dois núcleos de onde Maxxxine (2024) pode ser percebido. Um primeiro, relacionado a um campo do núcleo conceitual ou temático da obra e aí a questão colocada se define em como ele não recai em determinados clichês de perspectiva da experiência cinematográfica contemporânea.
Ou seja, não há um par que considere uma vertente romantizada no presente da protagonista. Ela independe desse aval já batido na esfera das narrativas cinematográficas contemporâneas porque é uma figura que tem uma presença marcante. Gosto do prólogo e da sequência de abertura por pontuarem isso muito bem.
O caminho que Maxine faz é trilhado pelo desejo mobilizante por ela definido. Se vemos a personagem sozinha em um beco escuro e de repente alguém a intercepta na noite escura de Los Angeles, ela é capaz de se proteger sem a presunção de qualquer ajuda.
Ela faz o seu caminho. Por outro lado, um segundo campo leva o filme para uma base muito frágil do cinema na contemporaneidade, que é a validação junto ao espectador médio cuja lógica de relação com o elemento fílmico também é viciada.
Exige uma confirmação de certos parâmetros, como por exemplo, a exacerbação de uma violência que pode ser mais gráfica, como uma cabeça que explode diante da câmera ou de uma carne retalhada diante da lâmina da faca, de um corpo comprimido dentro de um carro sob uma máquina de compressão.
Ao mesmo tempo em que opera suprimido instâncias estético-conceituais como a sexualidade. O que nos leva novamente à problemática da tendência de um público avesso ao sexo encenado (e não explicitado) na tela.
A atmosfera é exploitation, os filmes feitos no universo da trama giram em torno da indústria pornográfica e dos "filmes b", mas isso não é operacionalizado enquanto ferramenta temática em si. São só emulações elaboradas em uma única cena rápida e relevadas em comentários ditos pelos personagens.
Não estão em ação e por isso não têm força alguma, não devem ter. A indiferença parece ser a toada da obra como um todo. Toda essa ideação de um filme que se propõe algo ultrar-referencial pode ecoar, como foi o caso aqui, em algo realmente indiferente.
Por outro lado, também entendemos esse desejo de Ti West por trazer o cinema para dentro da organicidade da narrativa, mas tudo o que é proposto só se vale enquanto exercício de esquecimento dentro de uma lógica das referências ao que veio atrás.
Nisso, de De Palma a Argento, passando por Hitchcock, Verhoeven, Polanski e Lynch, nada parece autêntico no desenvolvimento da estória. Algo que fica bem evidente quando vamos pensar na relação entre esses personagens, que são pontos de força reais da trama, de fato.
Certamente a figura da diretora, Bender, é o elemento que melhor revela essa fragilidade. O longa tem tanta dificuldade em lidar de modo mais orgânico no estabelecimento dos eventos referenciais da vida da protagonista que logo percebemos que todas as falas da "chefe" de Maxine apenas surgem como pontes para o espectador enxergar (sem sombras de dúvidas) que esta é a personagem principal da obra.
O filme leva o nome da atriz no título e ainda assim essa estrutura parece ter sido o máximo que o diretor conseguiu pensar considerando a aba envolvendo a dinâmica entre essas duas mulheres, por exemplo.
Indiferente à chefe, Maxine só responde àquilo o que lhe é perguntado e em todas as cenas entre as duas é a "contratante" quem interpela a "contratada", tudo pela estrutura de entendimento de que a personagem de Mia Goth é o centro da narrativa.
O que é óbvio, mas que não necessariamente precisaria ser entoado de modo tão simplista, sacal. Foi assim em "X" (2022) e agora nesse terceiro filme sobre a atriz assassina (e agora não mais relacionada a alguma culpa determinante que seja, pelo bem do bom mocismo sujinho dos nossos dias.



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