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Memoria: reflexões sobre os sentidos múltiplos da beleza

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 7 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

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Direção: Apichatpong Weerasethakul. Roteiro: Apichatpong Weerasethakul. Montagem: Lee Chatametikool. Direção de Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom. Produção: Tilda Swinton, Apichatpong Weerasethakul. Direção de Arte: Juan Diaz B. Efeitos Visuais: Juan Manuel Betancourt. Som: Raúl Locatelli, Akritchalerm Kalayanamitr.


A investigação da beleza no exercício do cinema pode ser entendido como um dos maiores desafios na prática da realização. No jogo da abstração, por exemplo, o risco do conceito se tornar não mais que uma massa etérea é muita alta. Mas essa é uma afirmativa que Apichatpong Weerasethakul definitivamente não desliza ou pende para isso.


Ainda que desde o princípio tudo soe meio que dentro de uma imensa redoma abstrata, a estória não se enverada para um jogo ultra complexificado. Ao invés disso, simplicidade. Claro que Weerasethakul tem consciência de que sua assinatura pressupõe essa estilística que não preconcebe construções arbitrárias ou descoladas dos princípios que ele mesmo acredita enquanto artista.


Falar desse belo aqui é importante porque ele pressupõe muito mais que a conceituação daquilo o que tem a característica de ser bonito. Nesse ponto, o filme se aproxima demais da problemática que um autor como o próprio D. W. Griffth (na sua última em vida) enunciou acerca da sua ausência no cinema da modernidade.


Esse pensamento grifftiniano é o mesmo referenciado por Denilson Lopes na sua análise sobre o cinema de Yasujirô Ozu. Dessa cinematografia que transcende a própria prática da forma. E que a partir disso ressignifica o exercício artístico por meio de tudo aquilo o que é conceito. Impressiona o minimalismo adotado por Weerasethakul nesse sentido.


Como representar o belo então em meio a um cenário onde o fazer cinema cada vez mais parece tender à rarefação de fórmulas simplistas e soluções feitas para uma espectorialidade passiva? Desafio. Desafiar o olhar daquele que vê de forma que ele possa enxergar para além daquilo o que a tela transparece.


A beleza aqui pode estar não dentro da construção cênica de um instante de emoção direta. Um beijo ou um choro, por exemplo. Esse cinema pede sempre menos a fim de partilhar com seu espectador um pouco mais. Para isso, basta uma paisagem captada na sua mais irredutível naturalidade, e dois atores, apenas.


Pode parecer uma proposta reducionista, mas ao fim do processo tudo se encaixa. Na verdade, o que sentimos é exatamente esse flerte do autor com sua própria assinatura que riscou ali o início desse novo milênio quando pensamos em Objeto Misterioso ao Meio - Dia (2000). Ainda que as duas décadas entre as produções as afaste pelo tempo, há uma aproximação irrefutável entre os títulos.


É esse "não dito" implícito que brinca com o jogo entre as possibilidades que o arthouse traz, não como pêndulo para marcações canônicas do que é contra - prática comercial cinematográfica. Mas muito mais na dosagem e interceptação de determinados códigos de um cinema mais viciado - campo que a ficção-científica se denota - , para propor novos arranjos.


Nós sabemos em parte de onde vem as inquietações de Jessica (Tilda Swinton). O estranhamento se torna mais que um índice de determinação para um estado da personagem. Ele é a própria atmosfera que a cerca (nessa Colômbia que infere uma aura de apatia aterradora, mas também reconfortante).


E quando o segredo da narrativa enfim se define, entendemos com o que Weerasethakul está agora lidando. Retornamos, de fato, de onde viemos. Estamos no início de 2000.

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