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Missão: Impossível - O Acerto Final

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • há 7 dias
  • 5 min de leitura
Crédito: Deadline
Crédito: Deadline

Direção: Christopher McQuarrie. Roteiro: Christopher McQuarrie, Erik Jendresen. Direção de Fotografia: Fraser Taggart. Som: Chris Munro, Lloyd Dudley, Ben Meechan. Design de Produção: Gary Freeman. Efeitos Visuais: Jeff SutherlandMúsica:  Lalo Schifrin, Max Aruj, Alfie Godfrey. Produção: Jake Myers, Christopher McQuarrie, Gina Hallas, Tom Cruise. Montagem: Eddie Hamilton. Dublês: Bogdan Kumšackij, Cali Nelle, Wade Eastwood.


O que é a experiência do Impossível dentro do cinema? Ou o que pode representar a dinâmica da impossibilidade dentro da estrutura fílmica? Certamente parte desses problemas estão, de alguma forma, implicados, se não conceitualmente, pelo menos no nível da forma desse novo trabalho do Christopher McQuarrie.


Nada que eleve o curso da obra para além daquilo o que o cinema de ação e aventura contemporâneos, hoje, minimamente venham a ser, considerando uma escala base do comprometimento que um realizador tenha na condução de um projeto desses no âmbito de Hollywood.


A questão é que, desde Acerto de Contas (2023) a impressão que ficamos, de modo geral, é que esse plot da Inteligência Artificial assassina resguarda um aspecto muito abstrato para toda a estrutura narratológica proposta pelo longa-metragem. Não é que essa ameaça precisasse ser algo visível, concreto, materializado, tal qual na figura de um humano enquanto ser, mas que precisaria se fazer estar ali, em alguma ordem.


Se tomarmos Top Gun: Maverick (2022) como modelo, poderemos entender o quanto esse antagonismo, ainda que desmaterializado, consegue exercer uma força de presença a partir do seu coeficiente de ausência e mover os eventos da estória sempre a frente. Ali, Kosinski modula a ameaça como se fosse algo metafísico, quase, mas crível na sua concepção antagônica.


Não vemos o inimigo, mas ele sugere essa aura de um perigo que é eminente e que, acima de tudo, representa um desafio a ser batido pela equipe da Força Aérea americana. Aqui, em "M:I 8," esse nêmesis não encarna com tanta precisão tal alcunha de um terror a ser batido, certamente pelo fato de se abstrair dentro de uma lógica universalista demais.


"O fim do mundo", "um cataclisma global", uma "crise de ideologias e fanatismos", são temas ou motes que em função da sua proporção sugerem sempre um tom meio descartável no todo que o filme representa. Sabemos que o mundo (diegeticamente falando) não acabará, assim como um Maverick nada disso ocorre. A diferença, novamente, é o parâmetro.


Enquanto que no filme de Kosinski o perigo é sempre imaginável, se encaixa bem nos limites da trama ali exposta e reverbera essa impressão de credulidade em consequência à percepção espectatorial, no projeto de McQuarrie, ele se amplifica em uma escala de potência macro geográfica que parece diluir até mesmo esse aspecto da "confiança" naquilo o que a realidade da narrativa viria a mobilizar.


Ou seja, tudo o que a "Entidade" projeta se torna meio genérico. Mas óbvio, essa condição ou impressão de descartabilidade não estaria relacionada, pelo menos não diretamente, ao escopo mais geral do filme. É um bom trabalho, principalmente quando consideramos a métrica das produções hollywoodianas da última década ou do último quinquênio.


McQuarrie não é um diretor cínico, irresponsável ou coisa do tipo, mas parece não ter conseguido entoar uma construção mais dinâmica nessas duas partes da série. E quando falo de dinamismo não é o fato de sobrar o elemento da ação, - e até é,- mas não é como se ela fosse um elemento anulado. Ela está lá, mas aparece dentro de uma estrutura blocada, compartimentada demais.


Mais uma vez, todo filme de ação ou aventura, em sua maioria, se utiliza dessa proposta marcada por instantes ou situações que "acionam" os acontecimentos em linha. E falar de linearidade, aqui importa, porque o filme também se fragmenta demais a partir da inserção dos flahsbacks de eventos de, pelos menos, 3 outras linhas temporais.


A fragmentação em si não é nem um problema, é um recurso muito útil, mas quando ela é utilizada apenas para referenciar o passado de modo meio ilustrativo na intenção de que o espectador mantenha uma perspectiva irrestrita da compreensão do que ocorre na narrativa, então, ela se fragiliza consideravelmente.


Isso é justamente o que acontece aqui. Entendemos que a trama é nova, mas sempre ficamos com a impressão de que tudo prescinde de algo dado atrás e indo sempre para trás, é como se a narrativa não conseguisse se focar naquilo o que ela pode mobilizar adiante. E para um filme de ação isso é algo que mina consideravelmente a sua potência fluídica.


Voltemos um instante à Efeito Fallout (2018). Certamente o segundo melhor filme de toda a franquia, a ação é quase ininterrupta. Ela não é frenética, mas se pauta em uma cadência modular, alternada entre os instantes onde a missão precisa ser elaborada, passo a passo. É perfeito.


Retornando ao "Acerto Final", essa parte que falta à ação se redimensiona, de certa forma. Sai de uma determinação intervalar, digamos, acontecimento por acontecimento e se foca numa proposta "bipartite", ou seja, reorganizada em dois grandes blocos ou sequências fílmicas.


Talvez seja por isso que ficamos com a sensação de falta no curso desse elemento na malha fílmica. Há de se registrar e considerar, também, o fato de a produção ter lidado, certamente, com a sequência mais complexa de todos os oito filmes já feitos, até então.


Lógico que essa decisão de se priorizar uma matriz menos carregada de micro arcos e ancorada um pontuais momentos de alta complexidade performativa é o que muda, não apenas a obra na sua dimensão mais concreta (em termos de duração e carga formal), mas também na ordem conceitual da coisa.


Essa oitava parte da série, obviamente está muito mais ligada ao trabalho antecessor do que ao sexto filme em questão. Mas tudo isso diminui esse novo ou (derradeiro?) capítulo da era Cruise na saga? Não. Porque ainda assim, a obra se coloca num estado que em muito supera a muitos projetos do gênero produzidos pelo cinema mais mainstream, que seja.


A crença na experiência cinematográfica como evento captado de modo singular pela lente da câmera oferece essa carga do testemunho de algo que reconfigura o índice da magia em questão. Acreditar que alguém pode voar ou "tomar carona" nas asas de aviões monomotores dos anos 1930 na proposta de um filme não é algo do campo da impossibilidade.


A arte do filme opera na mágica das suas técnicas para isso. Esse é o jogo. Mas quando a ação adiciona a variante daquilo o que se configura no campo do real, a realidade do filme ganha uma outra carga e é ai que passamos a verdadeiramente acreditar. Cruise nos faz, como fez ao longo desses últimos quase 30 anos acreditar nisso.

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