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Roma, Cidade Aberta: das imagens forjadas na infinitude

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 5 de mai.
  • 2 min de leitura
Crédito: Film Affinity
Crédito: Film Affinity

Direção: Roberto Rossellini. Roteiro: Sergio Amidei, Roberto Rossellini, Federico Fellini. Montagem: Eraldo Da Roma, Jolanda Benvenuti. Direção de Fotografia: Ubaldo Arata. Produção: Rod E. Geiger, Giuseppe Amato, Roberto Rossellini. Som: Jill Purdy. Efeitos Visuais: Guillaume Le Gouez. Música: Renzo Rossellini. Som: Raffaele Del Monte.


Citando o pensamento de Guilles Deleuze sobre as características das distintas eras possíveis na arte cinematográfica, Jacques Rancière lembra o recorte existente entre dois tempos que colocam em perspectiva um cinema classicista e outro de vertente moderna. No corte entre esses dois tempos e estilos da cinematografia, encontra-se Roberto Rossellini.


Neste filme definitivo, não apenas do que foi o movimento neorrealista italiano no fim da primeira metade do século XX, mas também daquele cinema que emergia àquele período, realmente se faz marcante o traço da imprevisibilidade como marca fulcral de uma nova maneira de fazer e de se perceber o exercício audiovisual.


E diferentemente dos os autores da era clássica norteamericana, a descontinuidade da prática fílmica era um campo de interesse e potência emergente que alcançaria a aventura da realização em um outro momento. A narrativa não estava mais ancorada na ideia da obrigatoriedade de um mito que se fundava e encerrava na figura do herói, geralmente o homem, branco, cis e conservador.


O homem comum assume a centralidade desse debate marcando um dos instantes mais prolíficos para nossa arte, de fato. Falar dessa beleza não é tomar lugar apenas do coeficiente estético, obviamente. O encanto por essae universo calcado em um realismo prático, vindo desde a escolha pelo engajamento de pessoas não formadas na dramaturgia, desde o uso de cenários reais na construção dessas estórias, são as marcas irrefutáveis dessa proposta.


A oposição à ideia de uma representação alienada da vida vem pela consciência em torno do terror. Afinal, como representar a dureza e o horror do que fora a Segunda Guerra Mundial senão pela via da tragédia? Essa sobriedade é aquela impressa no assassinato da esposa que se rebela a fim de salvar a vida do marido no meio do caminho, fica o filho. Nessa cidade aberta, há também as rachaduras de uma realidade que, na perspectiva de 1945, não havia outro modo de ser reencenado que não pela via da tragédia.


Nada aqui é sublime, no entanto. A morte é abrupta, inesperada na anunciação que a sequência vai aos poucos revelando. A força da dramatização vem no propósito fundador do conceito deleuziano. Dessas imagens forjadas na infinitude de um compromisso com a vocação realista desse cinema moderno, e cuja lógica opera muito mais pela relação de aparição das suas situações óticas e sonoras, nesse ponto não mais transformadas em ações.


Tudo ocorre na dimensão do plano. E a ênfase em tudo o que se dá nele busca esse coeficiente realista. Como se o próprio espectador saísse da sua condição de passividade para mirar ou testemunhar o desenrolar da ação. Às vezes relativas à beleza do afeto partilhado entre os homens, por outras, a partir da barbárie e da violência que o conflito entre os homens dão a ver.

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