Monster: imagens de um paraíso (in)possível
- danielsa510

- 15 de jan. de 2024
- 2 min de leitura

Direção: Hirokazu Kore-eda. Roteiro: Yuji Sakamoto. Montagem: Hirokazu Kore-eda. Direção de Fotografia: Ryūto Kondō. Produção: Hijiri Taguchi. Som: Kazuhiko Tomita. Música: Ryuichi Sakamoto
As sombras do humano e as luzes que igualmente compõem a unidade de cada figura terrena são as bases conceituais de onde Kore-eda engatilha a trama do filme. Pensar a obra como um quebra-cabeça parece, a princípio, uma estratégia até padronizada quando consideramos a experiência do cinema mundial contemporâneo.
A grande virada aqui é o modo como a narrativa é estruturada. Ela parte de uma situação-problema para ir descamando o todo no qual o filme é composto. Por ser um trabalho fragmentado, ou seja, repartido em espaços-tempos distintos e intercalados fora de uma ordem cronológica, ele soa sutilmente "desconexo", para logo ir se emparelhando numa construção capitular mesmo.
Primeiro uma mãe e filho no desenvolvimento de suas rotinas cotidianas. Depois o problema com o professor e a rotina obscura da escola. Seguindo da inversão de perspectiva para o ponto de vista do educador, e o lado do colega de classe. São pelo menos, três bases de onde toda a ideação da estória se germina.
Chama atenção, no entanto, o fato de Kore-eda não ceder ao julgo do maneirismo na concepção da obra. Tudo é estabelecido de modo frontal, seja na ordem do discurso, conceito e dos temas com que o filme lida; seja no campo da técnica propriamente dita a partir dos recursos que a linguagem oportuniza.
A impressão que temos é a de que nenhum minuto se perde na metragem total. Cada novo evento movimentado no filme opera a favor do desenvolvimento das suas demais partes.
Interessante como aquilo que não vemos em determinado capítulo, acaba sendo retomado mais a frente, ainda que a perspectiva da construção de cena seja a mesma.
O que muda aqui, nesse caso, é a dimensão espacial como vemos e percebemos o jogo cênico elaborado por Kore-eda. Uma abordagem labiríntica para o trato de temas sensíveis como a violência institucionalizada nas relações sociais da pós-modernidade.
Não é sobre quem é o monstro dos nossos dias, mas talvez muito mais a respeito do modo como lidamos com as nossas próprias sombras e fragilidades cotidianas. Diante da dureza de eventos que não permitem um retorno, a propabilidade de um cenário pós terreno estabelecido por imagens de um paraíso (in)possível.



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