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Não! Não Olhe! - uma virada perceptiva no cinema de Jordan Peele

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 29 de ago. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de ago. de 2022


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Direção: Jordan Peele. Roteiro: Jordan Peele. Produção: Robert Graf. Montagem: Nicholas Monsour. Fotografia: Hoyte van Hoytema. Design de Produção: Ruth de Jong. Efeitos Visuais: Mike Chambers. Som: Johnnie Burn.


Jordan Peele parece lidar de modo muito mais virtuoso com os elementos do suspense e do terror neste filme que no seu antecessor. Apesar de eu gostar de determinadas escolhas de "Nós" (2019), é neste mais recente longa que o diretor consegue alinhar - na verdade, retomar - uma abordagem a favor de uma construção mais uniforme a partir dos elementos temáticos e do campo formal do qual o filme é feito.


Se formos pensar no índice do alívio cômico, por exemplo, ele surge muito mais como um traço individual de um dos personagens em si. Isso era algo também perceptível em "Nós", mas que ali, tal traço operava mais como uma liberdade criativa do diretor em si para pontuar as tensões sociais que a obra colocavam em campo.


Aqui, essa comicidade é um termo que se estabelece não como uma desgastante tendência de atenuação da narrativa cinematográfica mainstream contemporânea e mais como um reflexo natural da dramaturgia. Um esquema que, a propósito também ganha bastante força ao renunciar aquilo o que poderíamos chamar de uma "estrutura de freios dramatúrgicos".


No cinema de massas, falamos da recusa que uma figura "A" responde a determinado comentário de uma figura "B". No fim, ambos concordarão acerca daquilo o que se falava e o resultado é o desgaste no fluxo e dinâmica da narrativa na sua totalidade.


Peele não se rende a isso, o que é ótimo e se prova pela cumplicidade com que OJ Haywood (Daniel Kaluya) e Esmerald Haywood (Keke Palmer) estabelecem sobre a ameaça que precisam enfrentar juntos. O que eles terão de lidar é o que é.


Isso posto, o filme segue adiante operando sobre outras engrenagens que realmente importam para o trabalho. Em se falando sobre o que é relevante, talvez o maior mérito do longa seja não depender única e exclusivamente do tema racial para se posicionar politicamente enquanto produto artístico - cultural.


Logo, a virada perceptiva no filmografia de Peele resida nisso. Ele não é um "novo Shyamalan" ou um novo herdeiro do legado de um Steven Spielberg da nossa geração. Sua obra parte de um conjunto temático que foi se aperfeiçoando desde "Corra!" (2017) até aqui.


E do orçamento limitado à alta cota orçamentária, o diretor apurou o olhar por entender que a representação da figura negra norteamericana não pode depender unicamente do laço social por trás das narrativas. Há outros modos de se reafirmar a política dessa luta dentro da expressão artística.


Ela nem sempre ocorre com o tema ligado à presença dos personagens de modo literal. Ela muitas vezes está estampada no protagonismo da pessoa negra dos Estados Unidos dentro de um filme que lida com instâncias canônicas da cinematografia desse país. Por isso o Western, o terror, o suspense e o filme de ação são lugares onde os protagonistas negros podem se reafirmar.


Essa é uma das políticas autorais mais potentes do nosso tempo. No Brasil, por exemplo, um realizador como Gabriel Martins entende isso muito bem e coloca essa percepção das coisas a favor da sua produção criativa. "Marte Um" (2022), também em cartaz nos cinemas brasileiros, é uma prova concreta disso. E notarmos que Hollywood também está aberta para isso é de um otimismo contagiante.

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