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O Dublê: do tempo e outras formas de descompensação

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 3 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

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Crédito: Universal Pictures

Direção: David Leitch. Roteiro: Drew PearceMontagem: Elísabet Ronaldsdóttir. Direção de Fotografia: Jonathan Sela. Produção: Kelly McCormick. Dublês: Chris O'Hara, Yeye Zhou. Efeitos Visuais: Matt Greig. Música: Dominic Lewis.


O problema maior do filme não é nem esse ar esquemático que opera ininterruptamente entre uma veia sarcástica e boboca mesmo. O subgênero da comédia de ação nada tem de deméritos se vasculhamos outras experiências na escala da cinematografia mundial afora. E até gosto do modo como ele introduz a figura de Cat Seavers como esse sujeito fraturado pelo ofício, mas ainda assim apegado a um ideal, por exemplo.


O que custa ao filme em questão é essa espécie de descompensamento mesmo. Uma certa autodepreciação a qual Leitch não consegue se desvencilhar. Há sempre a piada, o comentário fútil, em sentido e da organicidade constitutiva do próprio filme.


Novamente, não há problema nisso. Essa carga de exagero na lida com o naturalismo da obra até faz bem quando consideramos a tendência ou obsessão de realizadores, críticos, pesquisadores e espectadores com esse trato na replicação da realidade fílmica para aquilo que seria entendida como a realidade da vida.


Matérias distintas, é esse apartamento que configura uma fruição orgânica nas assinaturas de grandes autores do cinema de ação contemporâneo como Carpenter, Bigelow, Woo, Balabanov ou Rajamouli. Em comum, cada um desses cineastas pensa o cinema como uma teria mesmo.


Independente da escala com que seus trabalhos possam vir a se dimensionar. O desperdício de energia em Leitch vem na contramão disso. De um exercício que se pretende ser referencial, mas que não assume a causa de fazer um comentário sobre o ofício em ordem de relevância que seja.


Ou que não se espelha naquilo o que tem sido produzido e testado nos limites de Hollywood mesmo em detrimento de projetos que só se imaginam pela via do esquecimento. Penso que o comparativo com Chad Stahelski cabe aqui pela proximidade de estilos e pela trajetória que ambos os diretores sustentam no meio.


A diferença é o compromisso, não em uma perspectiva conservadora, mas muito mais ligada a uma vertente de reimaginação dos códigos da ação. Como referenciar sem soar depreciativo, tolo? Talvez acreditar um pouco mais na energia que essa mão pode extrair fala muito de onde a força de apresentação desse cinema emerge.


Tanto neste último projeto de Leitch quanto em John Wick IV há sequências em uma boate. A diferença reside justamente no trato com que o próprio espaço cinematográfico é interpretado. Para o personagem de Stahelski, toda a especialidade opera em favor da arquitetura de solidificação do mito de uma figura invencível.


Claro que o protagonista da comédia de Leitch não se leva a sério e deseja que o interpretemos do mesmo modo. E o problema, para além disso, é, mais uma vez, o descompassamento e a descompensação com que os próprios eventos se sucedem.


Não há ritmo e tudo o que acontece no encadeamento das sequências vão se sobrepondo em uma estrutura que descortina apenas uma construção preguiçosa mesmo sobre como uma produção hollywoodiana pode vir a se desenvolver. E é só isso.


Uma oportunidade de tentar fazer algum comentário que seja sobre esse fazer, por exemplo, se perde numa espiral meio absurda onde a própria diegese do filme já não importa igualmente até que os créditos finais (finalmente) sobem na tela.


Toda revisão é válida e esse é um filme que pode gerar até alguma discussão sobre como estaremos olhando para ele daqui há 30, 50 anos. O tempo pode dizer, mas hoje, só isso parece restar em termos de debate.

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