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O Sabor da Vida: a felicidade de desejar o que já se tem


Crédito: IFC Films

Direção: Tran Anh Hung. Roteiro: Tran Anh Hung, Marcel Rouff. Montagem: Mario Battistel. Direção de Fotografia: Jonathan Ricquebourg. Produção: Olivier Delbosc, Christine de Jekel, Nora Chabert. Som: Jules Bertier, Thomas Gauder. Direção de Arte: Louise le Bouc Berger. Música:


Há pelo menos duas esferas ou níveis do amor onde Tran Anh Hung desenvolve a malha narrativa do filme. Uma primeira delas relacionada ao campo fílmico e de onde tudo se arquiteta em termos de concepção imagética e de conteúdo.


Há uma ideação de se preservar o ato de cozinhar na sua quase completude. Ou seja, na busca pela captura do gesto e da técnica como um elemento de diferenciação do modo como o tempo se manifesta na obra.


Pensando o prólogo, por exemplo, onde temos uma longa sequência onde os personagens prepararam um almoço durante parte da manhã, o exercício dessa prática se manifesta pelo desejo de uma câmera que assume para si o papel de uma testemunha de todos esses processos que antecedem a feitura desses pratos.


O que interessa aqui não é tanto uma emulação ou um desejo de mimesis ou de imitação da vida ou da prática em si em função de um mero dever de representação.

Mas sim de como a interação entre os personagens revelam esse transe onde o tempo se dilata e se metamorfoseia, se dilui ou se transforma, tal qual a comida em preparo.


Uma outra maneira como essa abordagem afetiva se manifesta no trabalho liga-se ao entendimento do romance como um gênero-chave para a reflexão sobre o amadurecimento humano. Porque, ainda que o trágico se manifeste, há o aspecto daquilo o que se aprende no decorrer do percurso trilhado.


E esse amor gestado ao longo do tempo, cozinhado em diferentes temperaturas no decorrer dos anos, também obedece a esse fluxo perceptível pelo componente da estilística do filme. Isso acontece justamente no sentido de como a ausência é parte desse processo de partilha do laço amoroso.


Da parte do processo partilhado e daquele que, a partir da memória fabricada, dará origem a novas memórias e vivências de uma vida que ainda precisa vibrar no mundo, que precisa ainda compartilhar suas potências com outros indivíduos ao seu redor.

Daquele que se mantém feliz por ter entendido e vivido a alegria de se continuar desejando aquilo o que, por um bem aventurado período de tempo, ele já teve.

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