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O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel - A maturação de novo clássico

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 1 de mar. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 9 de jul. de 2021


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Direção: Peter Jackson. Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens, J.R.R. Tolkien. Montagem: John Gilbert. Direção de Fotografia: Andrew Lesnie. Produção: Michael Lynne. Direção de Arte: Dan Hennah.Música: Howard Shore. Design de Produção: Grant Major



Um dos maiores desafios ao se revisitar um clássico é a possibilidade de nos surpreendermos com os elementos que nos vêm para além daquilo o que vemos na esfera do canônico. Na infinidade de pontos de inflexão que ele nos traz, mais difícil se torna a análise. Sempre parece haver mais traços da ordem da forma do filme em si do que julgamos dar conta. Assim como outros pontos na natureza do sentido que nos lançam em um emaranhado de possibilidades interpretativas.


É claro que olhar para O Senhor dos Anéis é buscar absorver o máximo do que as referências da trilogia escrita por J.R.R Tolkien têm a ofertar. Quando nossos olhos se voltam para a obra de Peter Jackson, o mesmo pode nos ocorrer. Analisar a trilogia fílmica de 2001 a 2003 é entender o quanto elas funcionam complementarmente. Apesar desse entendimento do todo pela parte, quando nos dispomos a imergir numa reflexão sobre a parte mais importante dessa experiência do cinema contemporâneo, é com a Sociedade do Anel que nossa jornada começa.


E não apenas pelo fato de estarmos diante do primeiro filme. Mas em função da sua significação enquanto um trabalho que ajuda a inaugurar uma nova perspectiva para o épico na cinematografia contemporânea. E assim como Lawrence da Arábia (1962) e Ben – Hur (1959) ajudaram a sedimentar uma proposta épica no cinema moderno, A “Sociedade”, junto a com outros títulos, como “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (2001) também foram definitivos para aquilo o que se atestou, bem como hoje podemos afirmar, de uma produção épica na contemporaneidade.


Interessante percebemos que, apesar de toda a carga referencial que concerne consistência ao gênero, esse estar épico em “A Sociedade” emerge de um exercício impresso por Jackson ao refrear o fantástico dentro de uma aventura iminentemente fantástica. Sim, tal qual manda a gramática, há uma narrativa clássica, com uma noção de um herói que assume uma jornada a ser cumprida, personagens da escala do extraordinario e um universo cheio de lendas e mistérios. Mas essas variações são contrabalanceadas por noções de uma realidade que dotam a obra de um positivo senso de consistência.


Sabemos que a Terra criada por Tolkien em meados da primeira década do século XX é mítica. Mas também bastante crível. E foi dessa verossimilhança que Jackson se valeu para solidificar seu longa-metragem. Entendemos os seres que habitam aquele universo, mas nos conectamos a eles de uma maneira poderosíssima em função de alguns códigos. Um deles é a noção de organicidade, seja na ordem do sentido ou na perspectiva da sua forma.


Quando Gandalf (Ian Mckllen), Aragorn (Viggo Mortensen) e Frodo tentam escapar da fúria de Balrog nas ruínas de Moria, apenas uma ponte quebrada impediam que eles seguissem caminho. Nesse momento, o fantástico poderia operar dentro do filme em uma sequência repleta de efeitos especiais que dariam conta do quanto esses personagens poderiam fazer enquanto guerreiros destemidos mas…calma, nada disso é percebido nesse momento do filme.


Isso porque, em “A Sociedade do Anel”, a física importa. E nisso, toda a ação contida na cena se desenvolve com um aspecto de forte naturalismo. Cada personagem cruza o obstáculo devagar. Primeiros os pequenos hobbits e os homens, até que só restam Frodo e Aragorn. Eles esperam, se inclinam sob um grande pedaço da construção que desliza lentamente para o outro lado da travessia e finalmente conseguem chegar ao outro lado da ponte. Há tensão e espera em um momento do filme onde a atmosfera dramática e da ação dependem quase que inteiramente disso.


Esse cuidado com os exageros que o uso da Computação Gráfica (CG) traz à obra é uma das marcas de maior distinção deste longa. O maravilhamento que a obra evoca nos diz muito de um cinema que se abre para o século XXI sob a alcunha das grandes produções hollywoodianas, mas que carrega na sua essência a primazia do cinema como uma arte que comunga a tradição do ato de contar histórias por meio de som e imagem com a referência clássica de uma literatura de aventura e fantasia tão relevante para o imaginário do ocidente no século XX.


Colocando em perspectiva, é como lembrarmos das problemáticas sequências de ação em “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” (2014). A gravidade nesta narrativa é totalmente negligenciada em certos momentos. Os personagens, muitas vezes, parecem flutuar em um cenário que deveria reportar o mesmo naturalismo de “A Sociedade do Anel”, por exemplo. É o mesmo universo, então, por que esse pragmatismo da construção das cenas acabam se dissipando, nesse caso? E não somente isso, assim como também se dissipa o olhar do espectador que contempla apenas a experiência do esvaziamento de possibilidades do CG. É falso e descartável, tanto quanto das criações que vemos na área dos Jogos Eletrônicos ao redor do mundo.


Passados 20 anos de seu lançamento, é com alegria que revisitamos A Sociedade do Anel e atestamos como o filme tem “envelhecido” bem. Ele nunca se tornará velho, nós sabemos. Mas nos reconforta saber que o tempo sempre nos trará a certeza de estarmos diante de uma obra basilar de nossa época. É claro que a discussão sobre as variáveis do blockbuster apontam diversas nuances entre as contradições de ordem comercial e de cunho ideológico. A mensagem e o engajamento no feitio do cinema enquanto experiência é mais forte, entretanto.


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