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O Som ao Redor: reflexões sobre um pedaço da brasilidade contemporânea

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 18 de set. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de set. de 2023


Direção: Kleber Mendonça Filho. Roteiro: Kleber Mendonça Filho Montagem: João Maria, Kleber Mendonça Filho. Direção de Fotografia: Fabricio Tadeu. Produção: Emilie Lesclaux. Direção de Arte: Juliano Dornelles. Música: DJ Dolores. Som: Catarina Apolônio, Ricardo Cutz, Kleber Mendonça Filho.


É bastante lúcida a leitura que Ismail Xavier faz sobre o filme ser sobre Gilberto Freyre mais do que qualquer outro tópico da cultura brasileira. Em suma é uma narrativa de vingança, mas ela não se encerra única e exclusivamente nisso. Daí sua força. E sendo bem franco, é da escolha por essa estrutura que podemos dizer que esse é o filme mais sólido e potente de Kleber Mendonça.


Principalmente quando consideramos a sua modulação entre aquilo o que notamos que é emergência e aquilo o que remonta a um certo retardamento ou dissipamento temporal. Importante falar da metragem e duração aqui porque é nela que esse índice se materializa de fato. Por que o seu prólogo, por exemplo, é feito todo a partir de uma sucessão de fotos de um passado não tão distante?


Uma das leituras que podemos fazer vai ao encontro desse pensamento. É excelente a reconexão direta que fazemos dessa abertura do filme com o seu clímax. Mas não somente entre elas duas. Todo o filme é entrecortado por esse conjunto relacional temático. Mas não nos enganemos, não estamos diante de um "filme de vingança" pura e simplesmente. O ato de se vingar alguém está correndo em toda a sua gênese, mas esse afeto não é o que move a narrativa.


E retornando a Xavier, importante refletirmos sobre a ideia do ressentimento mesmo. É esse sentimento que mobiliza esses personagens em maior ou menor medida. Eles não agem em função de um ideal coletivo, ainda que por alguns momentos isso seja até ensaiado. Seja pela reunião do condomínio ou pela ideação de um serviço de segurança comunitária.


É o rancor que move a estória para frente. Ela, à propósito, não está resguardada sob a ótica de um grupo ou uma figura que emulará um ideal de heroísmo nacional. Esqueçamos isso. Essa é uma perspectiva que Mendonça dissipa totalmente. Não é sobre torcer por alguém, odiar um personagem qualquer. E sim sentir essas tensões e refletirmos indiretamente (ou diretamente a partir disso) sobre as profundas e contraditórias desigualdades sociais de um país tão complexo como o Brasil.


Da segunda metade dos anos 1990 até o início da segunda década dos anos 2000, a experiência cinematográfica nacional se ratificou em múltiplas frentes. Mas certamente é aqui que encontramos uma espécie de grau máximo da nossa expressão pela arte do cinema.


É a partir de um trabalho como esse que toda a potência do audiovisual brasileiro se afirma pela sua veia crítica, e não necessariamente ultra - alegórica ou barroca, mas sim, acessível e não simplista. É por isso que, sem sombra de dúvidas, estaremos pelos próximos 90 anos discutindo a relevância desse filme para a solidificação da nossa força de expressão em suas características particulares e também universais.


Essa obra-prima da nossa cinematografia contemporânea está disponível nos catálogos da Netflix, no Mubi e no Telecine.

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