Os Observadores: sobre os parâmetros do terror
- danielsa510

- 11 de jun. de 2024
- 2 min de leitura

Direção: Ishana Night Shyamalan. Roteiro: Ishana Night Shyamalan, A. M. Shine. Montagem: Job ter Burg. Direção de Fotografia: Eli Arenson. Produção: M. Night Shyamalan. Som: Simon J. Willis. Efeitos Visuais: Nick Irving Allen. Música: Abel Korzeniowski. Maquiagem: Zoë Gibney
São pelo menos três as escalas que o filme de Ishana Shyamalan se subdivide. Uma primeira vinculada à obra de terror mais convencional com o elemento do sobrenatural, as vítimas potenciais dessa ameaça e o espaço fílmico em si, nesse caso representado a partir da floresta e da "gaiola" ou o bunker onde os personagens performam para seus predadores.
Gosto muito desse núcleo, principalmente por ele se relacionar com uma vertente mais sóbria do horror e do thriller contemporâneo também. Um segundo campo com o qual o filme dialoga estaria relacionado a uma problemática, na verdade.
Aqui, exemplificada pela tendência desse mesmo cinema em rejeitar lidar apenas com os índices mais tradicionais do gênero, como a morte, o medo, a perda da humanidade e a brutalidade dos eventos que a violência, seja ela de qual veia for, opera e agencia a seu favor.
Falamos, mais especificamente ainda, sobre a questionável decisão que os filmes do terror contemporâneo tem de se buscar na sua forma, não apenas materializar o trauma vivido pelos personagens, mas sobretudo "concertar" essas figuras por meio disso ou a partir de tal elemento.
E de fato isso é um problema porque é como se o realizador, que se predispõe a fazer um trabalho no gênero, acabasse ao fim de tudo, reduzindo a experiência a um esquema catártico, ou de resolução final obrigatória.
Ora, esse cinema não deve nenhuma resposta, nesse sentido, justamente por esse caráter libertário que o gênero conserva desde sua gênese na cinematografia dos primeiros tempos de 1895 a diante. Isto posto, nada deveria ser um limite para todo conjunto de filmes nesse escopo relacionado.
Mas Ishana não consegue superar o novíssimo paradigma e escorrega justamente nesse fosso, cuja leva de obras assim datadas parecem oferecer um difícil cenário que nos conduz para o terceiro tópico dos nossos problemas elaborados. Tudo parece carecer de um final hiperexplicado.
Porque em seu trabalho de estreia em longa-metragem, a diretora até ensaia uma construção com começo, meio e fim dentro de uma estrutura de eventos em progressão. Problema é que, quando a estória, que não parecia prescindir de uma explicação, uma vez que já estaria dada, resolvida, Ishana instala uma espécie de apêndice para a resolução de um conflito já consumado.
E aí o que seria um epílogo opera reiteradamente nessa perspectiva do "filme com final explicado". Como um modo de o espectador não ter qualquer chance de sair da sua experiência de contato particular com a obra, que não seja aquela dada pelo filme ele mesmo.
Essa é uma passagem complicada porque limita a dimensão projecional que o espectador tenha com a narrativa a partir do que ela foi e com a qual ela poderia vir a ser ao nos basearmos pela releitura do espectador em sua fruição com a arte.



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