Os Vingadores: Um novo paradigma no subgênero super-herói
- danielsa510

- 9 de abr. de 2019
- 4 min de leitura

Direção: Joss Whedon. Roteiro: Joss Whedon, Zak Penn. Montagem: Jeffrey Ford, Lisa Lassek. Direção de Fotografia: Seamus McGarvey. Design de Produção: James Chinlund. Direção de arte: Alexandra Byrne. Música: Alan Silvestri.
Na cena pós-créditos de Homem de Ferro (2008), Nick Fury (Samuel L. Jackson) vem falar para Tony Stark (Robert Downey Jr.) sobre o fato de ele não ser o único herói da Terra. O segmento pode ser considerado um dos mais importantes na linha do tempo das obras cinematográficas que adaptam histórias de super-heróis das Histórias em quadrinhos (HQs) porque foi a partir deste ponto que o projeto de adaptar as aventuras dos “Heróis Mais Poderosos da Terra” para as telas se originou. Assim realizou-se Os Vingadores (2012).
Dirigido por Joss Whedon e escrito pelo mesmo em parceria com Zack Penn, o longa narra a aventura do time de heróis formado por Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) unindo forças como equipe para deter os planos do manipulador Loki (Tom Hiddleston) de escravizar a humanidade com seu exército de alienígenas.
Sim, em linhas gerais a própria sinopse e o enredo do filme são genéricos. Não se nota, aqui, uma complexidade maior em termos de uma construção fílmica em forma e sentido. Em determinados momentos, a impressão que temos é a de estarmos diante de algum episódio de meio de alguma série de TV mediana. A composição dos quadros no filme não é grandiosa e o roteiro ainda apresenta alguns personagens com aprofundamento raso, como no caso de Natasha Romanoff/Viúva Negra.
Mas em Os Vingadores, Whedon estava bastante envolvido no trabalho e em Hollywood isso faz uma diferença crucial para o resultado final que vemos na tela. Estamos falando de uma aventura onde Nova York é invadida por alienígenas ameaçadores e apenas um grupo de pessoas superdotadas é capaz de impedir uma catástrofe de dimensões globais. Nesse tom exagerado, o equívoco é uma linha tênue entre o acerto e o equívoco.
Mas a Marvel Studios acerta. E fez do filme a maior bilheteria da história àquele ano com cerca 1, 5 Bilhão de Dólares ao redor do mundo. É claro que, falando do cinema blockbuster, as cifras são sempre uma tônica muito difícil de desconsiderar. É mercado, em que se pese, é claro, também a paixão que os realizadores envolvidos nesses projetos dispensam a cada um deles. E nomes como os de Whedon, Joe e Anthony Russo, entre tantos outros que realizaram na Marvel, são exemplos disso.
E para além de tudo o que já se tenha falado e discutido sobre o filme, é importante destacar o modo que as referências foram preservadas com vistas a serem um parâmetro para todo o desenvolvimento da trama no longa. A partir desse ponto, o cinema de super-heróis retomava na segunda década dos anos 2000 a confiança em derivar suas narrativas das linhas criadas pelas HQs ainda nos 1960.
Afinal, Os Vingadores parte e se constrói a partir da história de Os Vingadores#1 (1963), escrita por Jack Kirby e Stan Lee. A preservação de personagens icônicos das HQs como Loki, por exemplo, vilão nesta edição, da reflete o quanto o tom referencial foi um norte para a execução do filme em suas dimensões técnicas e afetivas, considerando ai crítica e público. Logo, não havia nenhum constrangimento em esta referência descender diretamente dessa mídia clássica, pelo contrário, nela, a direção viu toda uma potencialidade a ser trabalhada.
Estamos diante de um cinema de aventura, claro. E o tom que o filme leva consigo traz nuances de toda uma jocosidade oriunda, novamente, dos quadrinhos. E entre as variações tonais do humor e da ação, o longa consegue dosar momentos cômicos e outros mais dramáticos. É claro que essa dramaticidade não se relaciona àquela que vemos no cinema independente ou art house. Mas há alguma honesta intenção em se conduzir esses personagens com o mínimo de esmero dramatúrgico, por exemplo.
Há diversas passagens desnecessárias e exageradas, sim. Mas há também momentos e linhas muito boas e que nos ajudam a perceber como o subgênero dos super-heróis estava avançando muito em relação ao que a própria Marvel Studios produziu anteriormente a 2008. Todo o segundo ato do filme, que de fato é o melhor dos três atos que o compõem, é uma evidência disso. É uma prova de que há uma base sólida onde esses filmes podem, assim como de fato se desenvolveram, ao longo dos últimos 10 anos.
Há a esperada reunião dos heróis e seus recrutamentos ante a ameaça que Loki representa, além da difícil interação entre esses nomes e o desafio de cada um lidar com os seus egos. Seguido de um rompimento da equipe após um primeiro esforço frustrado para conter os planos do vilão, até o entendimento por parte dos personagens de que eles, de fato, só conseguirão solucionar o problema caso lutem juntos, como equipe. Eles então se posicionam como um time e unidos, salvam Nova York e a Terra. Eles se tornam Os Vingadores.
É claro que falar de um filme desses é se embrenhar em um emaranhado de sentimentos que rompem percepções e envolvimentos muitos distintos, a variar entre idades (considerando adultos, jovens e crianças). Mas o alimento do imaginário a partir de uma obra bem executada é um prazer que o audiovisual pode ainda nos garantir. Não em um sentido de termos de defender ou não tal trabalho. A obra de arte não está no mundo para ser defendida, mas percebida, vista com olhar crítico ou lúdico, se assim o espectador, no caso dos nossos filmes, imaginar.
Esse é o prazer de vermos como a Marvel tem, ao longo dos últimos 10 anos, construído obras que alimentam nosso imaginário de distintas formas a partir das semelhanças e diferenças que formam seus filmes. E as arestas que formam Vingadores é a da aventura que comunga o lúdico com o êxito de um projeto que verá em 2019 o seu ápice a partir daquilo o que Vingadores: Ultimato (2019) representará para toda uma geração em suas mais distintas idades.



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