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Oslo, 31 de agosto: uma viagem de ida, somente

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 31 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

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Direção: Joachim Trier. Roteiro: Pierre Drieu La Rochelle, Joachim Trier, Eskil Vogt. Produção: Yngve Sæther. Montagem: Elísabet Ronaldsdóttir. Fotografia: Jakob Ihre. Som: Gunn Tove Grønsberg. Música: Ola Fløttum, Torgny Amdam.


Não há redenção, escapismo ou qualquer artifício de retomada de uma vida em agonia que redima a existência do anti herói da narrativa. A jornada só tem um caminho de ida. Por isso o jogo que Joachim Trier traça desse aparente retorno de Anders à vida funciona tão bem.


Não importa o que ele faça ou o que ocorra com ele, todos os caminhos que ele venha a tomar o levarão ao ponto final da linha de quem vive o hoje sem conseguir visualizar o amanhã (independente do esforço que faça). Nesse estudo de personagem, gosto particularmente do modo como a responsabilidade não recai única e exclusivamente sob a figura do protagonista.


A cidade partilha esse protagonismo com Anders muito a partir daquilo o que ela pode ofertar em termos de construção, não apenas cênica no sentido do espaço e da ambiência, mas de como essa espacialidade ajuda a contar a estória.


A clínica, o lago, a casa, a praça, o café, a casa em festa, o clube, são espacialidades que circunscrevem a dinâmica dos eventos na sua gênese. Essa Oslo descrita em 24 horas é parte de tudo aquilo o que percebemos desse homem em busca de algo que, nem nós nem ele mesmo, sabe o que é.


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Não há respostas dadas para tudo isso. Só há a presença. Uma forma de ser que se traduz e ganha corpo a partir de um exercício de memória, seja ela dinâmica (movida pela força do movimento constante que Anders incorpora) ou em repouso (pela prática da escuta dos outros, de si mesmo e do entorno).


No apanhado disso tudo, o que Trier modula é essa viagem de ida, de fato. E de um registro que não assume o lugar do testemunho "ocular". Do outro lado da tela, não estamos ali para julgar aquilo o que o protagonista pensa ou faz. Seu desejo de vida e morte é soberano. Nunca nos aproximamos demais.


E mesmo quando esse homem parece mais à beira do precipício que nunca, nossa aproximação é lenta, compassiva e mantém esse timbre de quem sabe que pouco pode fazer, não devido ao anteparo que subdivide o quadro da ficção com o nosso estado de realidade. Essa é uma das maiores dádivas e máculas na experiência cinematográfica de sempre.

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