Pantera Negra: Wakanda para Sempre: problemáticas persistentes
- danielsa510

- 2 de dez. de 2022
- 3 min de leitura

Direção: Ryan Coogler. Roteiro: Joe Robert Cole, Ryan Coogler. Produção: Kevin Feige. Montagem: Jennifer Lame, Michael P. Shawver, Kelley Dixon. Fotografia: Autumn Durald. Direção de Arte: Marlie Arnold. Som: Steve Boeddeker. Música: Ludwig Göransson. Efeitos Visuais: Ed Bruce.
Sequer falemos sobre as inconsistências presentes na estrutura do filme como um todo. Tudo isso nos leva a uma discussão até pertinente sobre as motivações que movem uma estória do subgênero de super-heróis hoje em dia, mas no fundo acabamos apenas discutindo sobre os mesmos problemas que afetam as produções da Marvel Studios desde Homem-Aranha: Longe de Casa (2019).
Porque, no fundo, é como se todos esses filmes e séries produzidas pela empresa carregassem na sua na sua gênese esse índice contaminante de narrativas que sequer conseguem sustentar - se enquanto obras de aventura ou do cinema de ação mesmo.
No caso específico de Pantera Negra, o problema recai sobretudo nessa perda de identidade que o próprio filme anterior de Ryan Coogler conseguiu manter guardadas as devidas proporções. De certo modo, os primeiros cinquenta minutos desse novo longa até emulam essa estrutura progressiva de como os eventos se sucedem.
O problema é justamente quando as motivações da trama se colocam em cena. Nesse momento, o filme se abre, e como uma espécie de planta aberta de uma estrutura repleta de falhas (da ordem da dramaturgia e da sua parte conceitual), toda essa fragilidade opera em primeiríssimo plano. A termos comparativos, é como pensarmos como o desejo de um antagonista, por exemplo, pode ser uma instrução válida para se entregar um projeto razoável.
O primeiro Pantera Negra fala muito disso. Tanto Klaue quanto Killmonger eram bons vilões por operarem dentro dessa lógica. Suas intenções eram bem claras e objetivas no fim das contas. Pontos suficientes para sustentarem aquele filme nos limites em que ele se estabeleceu. É um bom projeto de ação e ponto. O que não ocorre nesse mais recente filme, infelizmente.
É tudo tão frágil que fica até difícil acreditar na decisão do estúdio de centralizar boa parte da problemática da obra sobre uma personagem recém apresentada no universo da narrativa para que ao fim de tudo percebermos que os próprios personagens em si desistem das metas e crenças sustentadas ao longo das duas horas e cinquenta minutos da projeção.
É como se estivéssemos diante de um live action de animes como Dragon Ball Z, por exemplo. Não que as animações sejam pouco efetivas. Elas funcionam dentro do arranjo a que esse modelo de produção se propõe.
O problema é entendermos que, enquanto uma empresa que em 2016 ainda conseguia operar trabalhos de relativa complexidade conceitual, como no caso de Capitão América: Guerra Civil (2016), a Marvel Studios em 2022 sugere seus filmes como exercícios de má fé mesmo.
Toda a questão envolvendo o falecimento de Boseman tem seu peso dramático e de fato costura o filme na sua totalidade, seja no prólogo, no desenvolvimento e seu epílogo. Mas afora isso, a obra não tem profundidade alguma em que possa se fundamentar.
Não há conflito ético, humanitário ou diplomático que a opere em direção a um comentário sobre as questões dos nossos dias hoje. O filme até sustenta o mérito de concentrar-se na espacialidade geográfica daquilo o que diz respeito às questões da territorialidade do que seria essa terra imaginaria de Wakanda.
Há uma certa autonomia narratológica, que por si só é bastante positiva em se tratando do modo como os filmes do subgênero são operados via de regra por Kevin Feige. Não há intervenção alguma dos universos entrecortados que os diversos títulos da carteira da empresa sustenta.
Apesar disso, acabamos concluindo que nem no índice da superficialidade das narrativas de aventura que sejam ela opera em consenso. Uma pena.



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