Pearl: o bom uso da reorientação fílmica
- danielsa510

- 7 de nov. de 2022
- 2 min de leitura

Direção: Ti West. Roteiro: Ti West, Mia Goth. Produção: Kevin Turen, Sam Levinson. Montagem: Ti West. Fotografia: Eliot Rockett. Direção de Arte: Ben Milsom. Som: Karen Baker Landers. Música: Tyler Bates, Tim Williams.
Gosto bastante como o Ti West lida com a dinâmica dos elementos do terror no filme. Quase todos os índices representativos da obra anterior, X (2022) estão lá, mas em nenhum momento eles soam como uma reorientação vazia no universo daquilo o que esse capítulo da trilogia trabalha.
A casa, o predador, os animais, o celeiro e a protagonista em si não são uma mera revisitação do que vimos no longa antecessor. Eles estão ali em função daquilo o que a estória atual coloca em operação. É um drama histórico que encontra muito de sua força também pela sua consciência e maturidade em não radicalizar no trato das situações que ele movimenta.
Entendemos que a sexualidade de Pearl é uma peça que molda a personalidade dela, mas não a torna refém de uma construção que só se ativa a partir disso. Ela não é só isso, é como se West nos dissesse em verdade.
E no fortalecimento dessa prerrogativa, a sua natureza maldosa e fraturada não deixa de ser explorada com responsabilidade também. A tendência assassina da personagem e sua psicopatia são colocadas em uma linha que opera em consistência com aquilo o que essa figura é.
Essa é uma proposição que se relaciona bem com a tendência do horror contemporâneo que apresenta o vilão não como um bastião sádico do mal, mas como um elemento que encarna a própria tragédia da sua narrativa e se corporifica a partir disso, leva consigo quase tudo ao seu redor pela impossibilidade de ser algo além disso.
Abre mão, inclusive, dessa vertente mais sádica e irônica no modo como os eventos se ordenam e direcionar o sentido dos eventos para uma psicologia patologizante também reafirmam essa maturidade da obra.
Quando a dramaturgia se desprende daquilo o que o casting não é capaz de fazer nos termos da atuação e direciona sua concepção para uma atomização do corpus dramatúrgico sem que isso interfira na potência com que determinados instantes assumem.
As próprias mortes não se banalizam e pontuam instâncias bem específicas que nós dizem quem Pearl é e falam igualmente da dimensão da fragilidade dessa figura.



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