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Pequenos Guerreiros: a problemática da hiper simplificação fíllmica

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 23 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

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Créditos: Divulgação/Priscila Smiths

Direção: Bárbara Cariry. Roteiro: Bárbara Cariry, Rosemberg Cariry. Produção: Bárbara Cariry. Montagem: Petrus Cariry, Bárbara Cariry. Fotografia: Petrus Cariry. Direção de Arte: Sérgio Silveira. Música: João Victor R. Barroso. Som: Érico Paiva.


Fazer cinema sobre a infância está longe de ser uma tarefa fácil. A construção da proposta reúne uma série de elementos que, se negligenciados ou colocados de modo desarmônico, pode refletir uma confusão sentida diretamente na estrutura do filme como um todo.


Nesse caso, o terreno onde Bárbara transita vai um pouco dentro disso ao mesmo tempo em que opera fora desses limites. Em linhas gerais, é virtuosa a intenção de colocar o imaginário da representação infantil como algo palpável. Ou seja, aquilo o que as crianças entendem e sentem como referência do mundo, o filme se apropria para materializar-se enfim.


Esse ideal primário de um mundo em descoberta é algo bem bonito de ver. São lições que o cinema tem desenvolvido e testado de O Mágico de Oz (1939) à o Balão Vermelho (1956) passando por O Meu Pé de Laranja Lima (1970) à "O Menino Maluquinho" (1995).

Todas essas obras têm em comum a consciência do sentido do quanto o olhar da criança é uma janela aberta para o mundo. Um lugar que se molda a partir do próprio como os pequenos interpretam as coisas ao seu redor.


No caso do filme de Bárbara, tudo é muito simples. Uma família sai em viagem para cumprir uma promessa na Região Sul do Ceará junto com outras duas crianças de uma família vizinha. É um road movie onde os personagens vão cumprir uma missão e pronto.


Para o cinema feito no Estado, via de regra, é ótima essa resolução diretiva. Do filme que não quer se autocomplexificar desnecessariamente. O problema é a oposição que uma certa hiper simplificação pode causar à obra em si. A titulo comparativo, colocando lado a lado "A Praia do Fim do Mundo" e "Última Cidade", por exemplo, vemos como os dois últimos filmes citados trabalham bem tais construções elementares.


Claro, são obras distintas, porque enquanto "Pequenos Guerreiros" modula a ludicidade da vida no Nordeste brasileiro, os longas de Petrus e Victor Furtado lidam com o lado dos dilemas da psicologia dessa nordestinidade em um nível a mais de profundidade.


São filmes de gêneros distintos, mas que denotam essa disparidade na própria relação com aquele que olha para a tela. O espectador é a base inicial e final de tudo isso, sempre. Falar disso importa porque o "filme para criança" não precisa pressupor necessariamente essa ingenuidade do fazer. Um carro velho, uma viagem longa, um velho cinema feito de garagem ou grande evento numa cidade interiorana podem ser gigantescos espetáculos aos olhos de uma pessoa aos 11 anos de idade. E o problema aqui pode ser justamente isso.


Essa "pureza" do olhar acaba contaminando a obra em um nível estrutural. Uma vez que isso ocorre é como se o filme por ele mesmo não conseguisse se desfazer disso. Tudo o que vai ocorrendo dentro da estória assume esse tom meio desproporcional e aí aquilo oque é fantasia e o que é concretude na realidade da trama já não se distinguem mais.


Para um trabalho surrealista, como o próprio "Última Cidade" é, isso ajuda a dar mais camadas ainda à obra. Mas para um título onde ter menos situações de imersão significa ganhos na sua unidade dramática, isso passa a ser um problema. O próprio ritmo daquilo o que vemos em cena perde fluidez porque os eventos apenas se emparelham um a um, quando em verdade, atuarem um unidade passa a ser sempre uma melhor solução. São escolhas que a direção assume e que acabam reverberando na forma final do trabalho na sua totalidade.


Não se trata sequer de uma questão de profundidade dos filmes ou qualquer pretensa pseudo complexidade colocada pelo filme. Ter uma estrutura mais densa conceitual e tecnicamente não significa necessariamente que a obra tenha um peso maior. No exercício do cinema, a realização só precisa contar a estória com competência. Algo que se alcança com uma trama concisa e alguma despretensão em certa medida. Algo que projetos como "Onde Vivem os Monstros" (2009) ou qualquer filme do Studio Ghibli entende muito bem.


Mas mesmo quando vamos pensar nas figuras dos adultos no longa-metragem de Barbara, há uma potência velada em outros sub núcleos como os que compreendem os personagens que a família protagonista encontra no meio do caminho. É visível olharmos para alguém como o Mestre do Reisado e sua esposa (ambos aparecem em algum momento do último ato) e encontramos todo um outro filme contido no interior das existências dessas figuras. Portanto, a força da obra está lá e se redireciona a partir desses fenômenos.

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