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Perfil de uma Mulher: o uso da manipulação cinematográfica consciente

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 23 de ago. de 2021
  • 2 min de leitura

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Direção: Kôji Fukada. Roteiro: Kôji Fukada, Kazumasa Yonemitsu. Montagem: Kôji Fukada, Julia Gregory. Direção de Fotografia: Ken'ichi Negishi. Música: Hiroyuki Onogawa.


Como o filme contemporâneo pode atravessar os próprios limites que a gramática cinematográfica coloca no exercício da arte? Essa pode ser tomada como uma das mais centrais questões para o pensamento do cinema de modo geral. Para alguns filmes, partir dessas tensões pode ser uma forma de modular proposições de maneira muito criativa e pro propositiva.


É desse ponto que Koji Fukada parece partir quando inicia o movimento junto a seus personagens dentro desse imenso tabuleiro que é o seu campo dramatúrgico proposto. Alocados como peças mesmo, eles se movem como que destituídos da intenção de nos instigar pela descoberta de alguma informação escondida ou velada.


Apesar desse trabalho com o índice do suspense e do drama em si, chama bastante atenção como em nenhum momento essa estrutura é invocada dentro desse propósito meramente expositivo. Ou seja, aos poucos vamos entendendo que o jogo que aos poucos se estabelece é o da ordem do entrelaçamento no fluxo temporal.


Por outro lado, não sentimos estar diante de mais uma obra fragmentada apenas. Ou que mistura presente com passado e futuro. O que Kôji Fukada assume é a investigação que inclui acoplar essas linhas espaço-temporais como que em uma só. Não como se ele quisesse por meio disso explicitar a linearidade dos eventos que a narrativa abarca.


Mas muito mais evidenciar as potencialidades que essa perspectiva híbrida carrega na sua estrutura. Nesse contexto, algumas questões que nos sobressaltam durante e no pós contato com o filme são: onde isso termina? A sequência que antecede o epílogo seria a "última" na linha cronológica diegética da protagonista, por exemplo?


Essas são questões que o filme aponta e que provam sua força para além do aspecto da obra fechada dentro de si mesma. Ela está e é abertíssima nesse sentido. Sua concepção extrapola em muito à mera ideação do trato no gênero. Perceber onde esses meandros se dão é o grande momento do contato com trabalhos como esse.


Nesse sentido, a nível formal podemos dizer que em alguma medida a montagem seja mesmo o ponto de condicionamento de toda a narrativa. Ainda que Fukada não objetive fazer com que ela assuma a dianteira do processo em primeiro plano. A estrutura corrida do longa, mesmo que diante das idas e vindas cronológicas, garante isso mais uma vez.


A diretriz do trabalho como um todo obedece, por fim, uma lógica bastante direta no seu modo de dar a ver os eventos da trama. Não há maneirismos no trato com a câmera, assim como também inexiste um desejo estetizante que muito certamente anularia esse estado indeterminado que o filme leva consigo quando pensamos nos sentidos que seus temas revelam.

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