Pi: o legado da reimaginação na realidade cinematográfica
- danielsa510

- 14 de mar. de 2023
- 2 min de leitura

Direção: Darren Aronofsky. Roteiro: Sean Gullette, Darren Aronofsky, Eric Watson. Produção: Eric Watson, Scott Vogel. Montagem: Oren Sarch. Fotografia: Matthew Libatique. Som: Brian Emrich. Efeitos Especiais: Ariyela Wald-Cohain. Música: Clint Mansell
O primeiro longa-metragem de Aronofsky é quase uma carta de intenções, não apenas da cinematografia particular do diretor, mas também ao se alinhar muito bem a uma espécie de "onda" do cinema de ficção norteamericano daquele final da década de 1990.
Momento de ruptura não somente no ocidente, essa virada trouxe para o audiovisual das várias partes do mundo uma necessidade forte de reimaginação da realidade representada nas telas e acerca de uma inflexão crítica sobre os abismos da mente e do corpo humano.
Obras como Os Idiotas (1998), “Cidade das Sombras” (1998), “Existenz” (1999) e Bicho de Sete Cabeças (2000), trazem, cada um a seu modo, esse traço de uma abordagem sobre o incômodo.
De uma forma de se analisar o estado humano na contemporaneidade não mais de modo idealizado mas pautado em um certo distanciamento que considerada, antes de qualquer coisa, a autonomia das existências dos seus personagens. Posicionamento esse que reflete bastante essa anti lógica do "final feliz" em torno do que ocorre a essas figuras.
De natureza puramente acusmática, o som fílmico apresenta-se ao espectador separadamente da imagem. Entretanto, o que notamos no filme é a ideia da “desacusmatização” dessa plataforma sonora. Uma vez que seu processo de sincronização o amarra à fonte visual encarnando tudo o que é voz e ruídos no corpo do filme.
Assim, as alucinações auditivas e as dores de cabeça que acometem Max acabam ultrapassando a própria diegese fílmica e passa a nos ser, enquanto espectadores, apresentada como a própria realidade através de um incômodo perturbador.
E na esteira de seu impacto sonoro, Aronofsky idealiza a montagem do longa não apenas como procedimento, mas sobretudo como uma maneira de criar uma identidade ao longa.
No Jumpcut, portanto, o filme se apresenta com um ritmo bastante fluido em se tratando da forma como os planos se ligam uma o outro. Se Max ingere uma pílula, isso nos é mostrado em cerca de dois segundos numa soma de quatro planos. Ou seja, quatro planos por um segundo e meio de metragem. Pílula, mão, água, boca.
Essa forma de lidar com a montagem por meio da junção de quadros que são fragmentos de uma mesma tomada de cena dotam de Pi de uma dinâmica visual marcante.
E a alternância com a repetição regular com certos planos (uma tranca fechada por Max ou os comprimidos por ele ingeridos) obedecem uma estrutura base que expandem os dados espaço temporais do filme. Sua forma alocada na repetição reveste de significado a neurose, a loucura e os distúrbios como relações que dão sentido ao que a obra é.



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