Seguindo Todos os Protocolos: a busca pelo sentido de algo além do medo
- danielsa510
- 7 de jul. de 2022
- 2 min de leitura

Direção: Fábio Leal. Roteiro: Fábio Leal. Montagem: Matheus Farias, Pedro Giongo. Fotografia: Gustavo Pessoa. Direção de Arte: Manuela Antonino. Produção: Fábio Leal, Juliana Soares. Som: Lucas Caminha.
Gosto de como o filme aponta a execução dos seus eventos de modo muito direito. E isso não significa dizer que cada segmento seja construído displicentemente ou mesmo fora de contexto.
A situação é bem clara: durante o período da pandemia da covid, Chico (Fábio Leal) quer transar e sentir algo a mais além do medo que esse período traz à reboque. E a grande força do longa vem da lucidez com que Fábio entende os diferentes lugares de onde a sua dramaturgia pode partir e aonde consegue chegar.
Dentro daquilo o que podemos entender poderemos entender como "filmes de pandemia", é de um potente virtuosismo a ideia de não dimensionar esse contexto única e exclusivamente para esse pelo universo do texto queer.
A obra legitima esse arco temático não a partir de decisões excludentes, mas sim de incorporação dos afetos e desejos que movem esses homens gays ou bi sessuais nas suas buscas nesse caótico período de exceção.
A vida segue seu curso pandêmico, mas as vidas dessas pessoas vão, do mesmo modo, encontrando seus modos de intersecção também. A discussão do relacionamento ocorre apesar dessa dura realidade em que o mundo está inserido atualmente.
Assim como seguem as rotinas de casa e a nossa compreensão de que precisamos ser protocolares acima de tudo. Nesse momento, um ponto de inflexão se coloca porque ainda que Chico obedeça todos os quesitos de segurança que a Organização Mundial de Saúde estabelece, a vontade de estar junto, sentir junto é maior.
E aí o próprio personagem se pega envolto em uma rede de contradições, gestos de desapego, confusão e incertezas antes, durante e depois das transas. E o que era busca pelo sentir se torna ruído nessa amálgama de diferentes sensações que modulam a vida do protagonista.
No mais, temos de acreditar que o melhor virá, apesar do rastro de sangue (visível e invisível) que inundam o Brasil desde março de 2020. A própria decisão de Chico de dar um passeio se despindo de tudo fala muito desse próprio cansaço nosso em relação a tudo isso.
Não que tenhamos de abrir mão de tudo enquanto ideal, mas abraçar as limitações desse tempo sem negá - lo, mas sim abraçando - o como quem faz um passeio noturno de moto numa cidade deserta.
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